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CidadesAvenida Faria Lima em muito além do 1%
Em seus 4,6 km, a via é endereço das mais diferentes tribos e é hoje um retrato da diversidade da capital paulista
Nosso ponto de partida é o Largo da Batata. Com a estação Faria Lima e uma série de linhas de ônibus, o lugar tem vocação popular. No Largo, se cruzam operários, desempregados, ambulantes, hypsters, advogados.
Moradora da região e psicóloga Edna Maffei, 79, traduz a diversidade da via com uma única palavra: “democracia”. “Tem de tudo por aqui. Quem diz que a Faria Lima representa 1% do Brasil é porque nunca andou por ela.”
Quem também passa pelo Largo da Batata é a doméstica Marlene Rodrigues, 48. “Os prédios do outro lado são muito bonitos. Nunca entrei neles. Acho que é porque a avenida tem dois lados, dois povos diferentes”, disse.
Mas vamos sair do Largo e avançar. A Faria Lima não se transforma na avenida do dinheiro de uma esquina para outra. Perto da rua dos Pinheiros, há pequenos comércios e promoções “tudo pela metade do preço.”
O espírito empreendedor da via pode ser visto nos olhos do engraxate Denilson das Neves, 16. Há dois anos na Faria Lima, começou trabalhando com uma caixinha. Agora, quer comprar uma segunda cadeira.
O Iguatemi ainda é um marco. A partir dele, a Faria Lima vai se transformando em algo mais “exclusive”. Ganham espaço as butiques e arquitetura moderna. Apesar disso, a calçada ainda é um ponto de convergência possível.
Sócio do Clube Pinheiros, o advogado Rubens Leite, 73, considera “babaquice” quem diz que a Faria Lima representa o 1% do PIB do Brasil. “O Brasil pode não ser este aqui, mas a avenida é uma parte do Brasil”
A ciclovia é uma das mais movimentadas da cidade. Por lá, existe uma grande concentração de entregadores de aplicativo. O ponto de concentração é a praça João Nassar, mais especificamente no Monumento às Musas.
O horário do almoço é o melhor para observar o perfil de quem trabalha por lá. A partir do meio dia, uma onda humana sai para os restaurantes e cafés da região. Para muitos, é a hora de fechar negócios.
Diariamente, um grupo se encontra no Patio Victor Malzoni, embaixo do edifício que abriga empresas como o BTG e o Google, para meditar. São 20 minutos na hora do almoço para os funcionários se reequilibrarem.
O mesmo espaço tem uma mesa de ping pong comunitária. Ela fica ocupada por funcionários de bancos e empresas de tecnologia. Não é raro, discussões de trabalho serem resolvidas na bolinha
O look “camisa azul” ainda reina na avenida, mas, aos poucos, tatuagens e camisetas coloridas dão cor a paisagem. Gabriel Al-Assal, 28, e Matheus Lourenço, 25, acham que a via tem um clima familiar.
De perfil mais alternativo, Matheus Palma, 21, diz que as “multinacionais da Faria Lima passam a sensação de que lá não é o Brasil”. Na média, segundo ele, os empresários da via não estão satisfeitos com a economia.
Os patinetes encontram o seu auge na avenida. Não é raro ver pessoas que trabalham nas redondezas realizando pequenos trajetos com eles. “Aqui é o nosso vale do Silício”, diz o empresário Guilherme Rajzman, 23.
Na Faria Lima também “sextou”. Quem trabalha na região aguarda, com ansiedade, a folga ou mesmo o happy hour. Afinal, segunda-feira começa tudo outra vez.
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