Quero comparar a taxa de satisfação com os governos Bolsonaro e

*ou seja, a quantidade de pessoas que consideram seu governo ótimo ou bom

Rodrigo Menegat

21 de dezembro de 2019

Ao final do primeiro ano de mandato de Jair Bolsonaro, a taxa de satisfação com o governo (porcentual da população que considera a gestão do País boa ou ótima) é quase a mesma do ex-presidente Fernando Collor no mesmo período.

A série histórica de pesquisas Ibope mostra que as semelhanças não se limitam ao porcentual de avaliações positivas que Bolsonaro e Collor exibiam depois de praticamente 365 dias no poder. A evolução – ou reversão – de seus números segue um ritmo parecido.

Os dois começaram o mandato com uma taxa de satisfação pouco inferior a 50%, mas esta logo diminuiu. As pesquisas evidenciaram quedas incisivas perto dos quatro meses de gestão: um recuo de 12 pontos porcentuais no caso de Collor e de 14 no caso de Bolsonaro. Depois dos desmoronamentos, não vieram recuperações sólidas, mas sim tropeços e soluços.

Eleito em 1989, o político alagoano anunciou uma série de reformas econômicas logo no dia seguinte à posse. Entre as intervenções do pacote que ficou conhecido como Plano Collor estava o confisco das cadernetas de poupança da população. As medidas iniciaram uma crise política que culminou no afastamento do presidente ao fim de 933 dias de governo.

Bolsonaro não congelou o dinheiro dos brasileiros, mas viu sua aprovação derreter de maneira semelhante. Ele, seus filhos e seus ministros foram personagens de crises diplomáticas, guerras culturais e investigações.

Crises

Deixando as semelhanças com Collor de lado, a atual avaliação positiva de Bolsonaro é comparável à de outros governos apenas em momentos mais avançados do mandato presidencial, geralmente durante crises políticas agudas.

Dilma Rousseff, por exemplo, só atingiu esse patamar durante os protestos de junho de 2013, com dois anos e meio de mandato. No mês seguinte às manifestações, as taxas somadas de "ótimo" e "bom" de seu governo caíram de 55% para 31%.

Até mesmo Luiz Inácio Lula da Silva, que ao terminar o segundo mandato foi chamado de "político mais popular da terra" pelo ex-presidente americano Barack Obama, já viu sua avaliação positiva cair ao patamar de Bolsonaro – e duas vezes.

A primeira foi em junho de 2004, com pouco mais de um ano e seis meses de governo. No mês anterior, o petista havia concedido um reajuste de R$ 20 no salário mínimo: 1,73% acima da inflação acumulada da época, mas abaixo das expectativas criadas após sua eleição. A segunda crise veio na metade de 2005, em meio ao escândalo do Mensalão.

Com a reeleição no ano seguinte, a popularidade do ex-sindicalista começou a subir de forma quase contínua. No fim de 2009, Lula chegou a 80% de avaliações positivas, melhor desempenho de um presidente em todo o ciclo iniciado após o fim da ditadura militar.

Dilma não seguiu a mesma trajetória. A partir de junho de 2013, sua aprovação seguiu oscilando entre 30% e 40%, mesmo após conseguir a reeleição em 2014. Em 2015, depois de praticar uma política econômica contrária à que defendeu na campanha, sua taxa de satisfação desceu para perto de 10%, onde se manteve até o impeachment.

Confira o que o histórico de pesquisas de popularidade revela sobre a trajetória dos presidentes:

Michel Temer

2016 – 2018

O emedebista assumiu a Presidência depois da abertura do processo de impeachment contra Dilma Rousseff e não apenas herdou a baixa popularidade da antecessora como conseguiu reduzi-la ainda mais.

Seu governo propôs pautas impopulares como a Reforma Trabalhista, aprovada, e a Reforma da Previdência, que não avançou.

Antes do fim do mandato, Temer sobreviveu a duas denúncias-crime encaminhadas pela PGR à Câmara dos Deputados. Seu fôlego na articulação política, porém, não foi capaz de reduzir a insatisfação com seu mandato.

Dilma Rousseff

2011 – 2016

O governo da petista foi marcado por duas quedas abruptas de popularidade.

A primeira aconteceu em julho de 2013, na primeira pesquisa realizada depois das manifestações que aconteceram no mês anterior em todo o Brasil.

Dilma venceu as eleições do ano seguinte, mas mesmo assim suas avaliações positivas não retornaram ao patamar anterior. Entre dezembro de 2014 e janeiro do ano seguinte houve um novo tombo, que coincidiu com o anúncio de medidas econômicas contrárias às que foram prometidas durante a campanha.

De lá até o impeachment, a popularidade da presidente seguiu próxima de 10%.

Lula

2003 – 2010

Ainda que ostente números que o credenciam como o mais popular dos presidentes desde o restabelecimento da democracia, Lula já viu a taxa de satisfação com seu governo chegar a níveis semelhantes aos que Bolsonaro enfrenta hoje.

Na metade de 2004, as avaliações positivas caíram para 29%. Na época, a recuperação econômica do Brasil engatinhava e o reajuste do salário mínimo foi de R$ 20, o que significou um crescimento real de pouco mais de 1%. Outro ponto baixo foi em 2005, em meio ao escândalo do mensalão, quando o percentual de brasileiros satisfeitos voltou ao mesmo patamar.

Depois da vitória contra Geraldo Alckmin (PSDB) nas eleições de 2006, porém, a popularidade do petista deslanchou. Mesmo em momentos de crise econômica, como na recessão global de 2009, os números não sofreram grandes solavancos. O governo terminou avaliado positivamente por quatro em cada cinco brasileiros.

FHC

1995 – 2002

Fernando Henrique Cardoso nunca foi avaliado positivamente por mais de 51% dos brasileiros, marca que só foi alcançada pelos dois presidentes petistas.

O primeiro baque em sua popularidade veio pouco depois de apresentar a PEC da Reeleição ao Congresso – a tramitação do projeto foi marcada por um escândalo de compra de votos. Depois de reeleito, instabilidades econômicas e a crise do apagão contribuíram para que os números das pesquisas caíssem ainda mais.

Quando o tucano terminou seu 2º mandato, menos de um quarto da população considerava seu governo ótimo ou bom.

Itamar Franco

1992 – 1994

Itamar Franco assumiu o governo depois do afastamento de Fernando Collor, em meio a uma severa crise. Sua popularidade acompanha a economia: despenca enquanto os índices de inflação batem recordes, mas dispara quando o Plano Real aplaca o aumento nos preços.

Fernando Collor

1990 – 1992

A linha que mostra a evolução da popularidade de Collor revela uma queda constante.

Desde o primeiro dia do governo – quando anunciou um plano econômico que, entre outras medidas, congelava valores das cadernetas de poupança – as avaliações positivas não pararam de desabar.

Quando uma oscilação positiva se ensaiava, o escândalo PC Farias explodiu, tornando inevitável a abertura do processo de impeachment.