Essa é a representação de um período com chuvas de alta precipitação

gif com a progressão dos registros de alagamentos por ano na cidade de São Paulo

Essa é a evolução dos alagamentos nos últimos dez anos



A partir disso, o que descobrimos analisando os últimos dez anos de chuva em São Paulo?


debaixo d'água

Alagamentos nos quatro primeiros meses de 2019 sobem 65% em São Paulo

Valores anuais seguem ritmo de queda desde 2016; Marginais Pinheiros e Tietê seguem como vias recorrentes de problemas para o paulistano

No período mais chuvoso do ano, entre janeiro e abril, São Paulo viu seus registros de alagamentos aumentarem em 2019. Apenas em quatro meses, foram 565 registros. Isso representa um aumento de 65.2% em comparação aos quatro primeiros meses de 2018, que obteve 342 registros.

O dado compilado também mostra esse aumento. No último balanço divulgado pela CGE, durante a Operação Chuvas de Verão foram registradas 59 ruas e avenidas únicas pela prefeitura. A diferença entre os números citados anteriormente é que um faz a contagem de todos os registros listados e o número apresentado pela CGE compilou quantas ruas únicas apresentaram problemas com enchentes.

Entretanto, o número total de alagamentos por ano na capital tem sofrido uma queda drástica desde 2013, ano em que registrou 751 cheias. Em 2015 esse número voltou aos quatro dígitos, com 1003 registros, porém esse dado voltou a cair em 2016.

O registro de alagamento é feito manualmente por agentes da Companhia de Engenharia de Tráfego (CET), que avaliam se a enchente é transitável e repassam essa informação ao Centro de Gerenciamento de Emergências Climáticas (CGE).

A partir de dados obtidos via Lei de Acesso à Informação, pudemos descobrir quais são as ruas e avenidas que mais alagam na capital por ano e acompanhar quais pontos melhoraram e quais seguem oferecendo problemas ao paulistano.

O meteorologista do CGE, Adilson Nazário, admite que esses números podem ser maiores. "A CET se preocupa com a via principal, para dar mobilidade. acaba que aquele ponto dentro de um bairro não tá sendo considerado. nós recebemos as informações da CET e nós [CGE] traduzimos no melhor formato para a população", afirma.

Quem transita com frequência pela Ponte Cidade Jardim, no Itaim Bibi, consegue perceber que as enchentes diminuíram nesta via. Em 2010, a ponte foi de 48 para apenas 1 registro em 2018. Até abril de 2019, não havia sido registrado nenhum alagamento no local.

Em um exercício de fatiar a década ao meio, no período entre 2010 a 2019, os acumulados de cada 5 anos apresentam resultados bem diferentes. Assim como a Ponte Cidade Jardim, a Ponte Eusébio Matoso é outro exemplo disso. No primeiro acumulado da década chegou a registrar 74 pontos. Nos últimos cinco anos, esse número caiu para 20.

A Avenida Sumaré, em Perdizes, quase desaparece no mapa de alagamentos. O principal ponto crítico da avenida, localizado próximo à Praça Marrey Júnior, foi de 59 casos para 3, quando comparados entre o início e o fim da década.

Nem todas as vias seguiram pelo mesmo caminho. As Marginais Pinheiros e Tietê seguem como as principais dores de cabeça para o paulistano, acompanhados das avenidas 23 de Maio, na Vila Mariana, e a Marquês de São Vicente, na Zona Oeste da capital.

Ao analisar o mapa acumulado, podemos observar que as regiões onde ficam as Marginais Tietê, Pinheiros e a Radial Leste dominam os pontos de registros. Só a Marginal do Tietê sozinha alcançou a marca de 210 alagamentos no acumulado da década.

Esse número mais do que dobra quando analisamos a Marginal do Pinheiros. Quando somados os registros da Marginal do Pinheiros com a Av. das Nações Unidas, juntos chegam a 498 pontos de alagamento em 10 anos. Na Zona Leste, a Radial Leste marcou 269 entradas quando também aliadas aos registros da Av. Alcântara Machado. É importante lembrar que nestes números estão incluídos os cruzamentos dessas avenidas com as demais ruas de São Paulo.

Abaixo, destrinchamos o mapa de São Paulo com os destaques por ano.



FERRAMENTA

Choveu, parou: confira as vias
que mais alagam em São Paulo

Pensando em quem precisa transitar diariamente pela cidade, faça chuva ou faça sol, elencamos as vias que mais apresentam registros de alagamentos dos últimos cinco anos.

Esse recorte de tempo foi pensado para tentar excluir ruas que podem ter superado o problema de enchentes, seja a partir de obras e manutenções de piscinões ou pela redução das chuvas.

Ainda à frente da Prefeitura, em 2017, Doria prometeu entregar 19 novos piscinões até 2020. Entretanto, a atual gestão anunciou que deve entregar apenas 13. Em 2017, a cidade tinha 24 reservatórios.


CLIMA

Chuvas em São Paulo nos últimos dez anos fogem do padrão histórico

Cruzamos o índice pluviométrico com as consequências dos temporais na cidade para acompanhar o que acontece nos extremos do clima

A cidade de São Paulo sofreu mais com seca ou com enchentes na última década? Sem dados em mãos, é difícil arriscar um palpite. Na memória dos paulistanos estão os temporais que alagam ruas, derrubam árvores e paralisam o trânsito. Mas ela também guarda o longo período de estiagem, que refletiu na baixa dos reservatórios, nas queixas da população de falta de água e nas campanhas que visavam à redução do consumo.

A falta de dados consolidados sobre as chuvas em São Paulo é um dos fatores que dificultam a análise da situação. Neste especial, você, leitor, irá ver como esse problema nos atinge de diferentes maneiras.

Para nós, repórteres, o ideal seria reunir o índice de precipitação das chuvas - quantidade de chuva que cai - hora a hora e, assim, analisar a intensidade. Infelizmente, os dados não estão disponíveis dessa maneira. E o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), órgão federal ligado ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, não disponibiliza os dados anuais.

Com tantas limitações, o que nos restou foi contar as histórias das chuvas a partir do valor acumulado no dia e, assim, tentar descobrir quais foram seus efeitos na cidade. Uma espécie de causa - quantidade de chuva que caiu - e consequências, como alagamentos e deslizamentos, entre outros.

PADRÃO

Para dizer se o clima está dentro ou fora dos padrões, os meteorologistas utilizam como referência a chamada Normal Climatológica - um arquivo de dados meteorológicos observados ao longo de 30 anos em uma mesma estação meteorológica. Para as análises atuais de São Paulo são usados estudos de 1981 a 2010 feitos pelo Inmet.

Olhando os dados, chama atenção o aumento do número de chuvas com precipitação igual ou acima de 50 milímetros por dia. Nos últimos dez anos, São Paulo registrou 53 chuvas assim, 25 delas no período mais chuvoso, entre dezembro e janeiro, no verão. Quando consultamos a Normal, a média esperada para chuvas desse tipo é de, pelo menos, uma vez ao ano.

Quando olhamos o acumulado do mês, a situação é mais preocupante. Dos 11 meses que separam janeiro e novembro de 2019, 9 registraram valores de precipitação muito acima ou abaixo da Normal. Em outubro, por exemplo, choveu 46,2 milímetros, segundo relatório mensal do Inmet - volume abaixo dos 126,6 mm esperados, de acordo com a Normal. Já em agosto choveu só 3,3 mm - o menor volume do ano -, enquanto eram esperados 36 mm.

De acordo com o meteorologista Nazário, não é possível bater o martelo sobre a correlação entre diminuição de chuvas com o de o número de alagamentos por haver diversas variáveis. Ele lista diversos fatores, como por exemplo: temperatura, vento, radiação solar, região onde ocorre e o próprio deslocamento da chuva.


INTERATIVO

Precipitação pluvial em São Paulo

Para que possamos avaliar a quantidade de chuva por ano, criamos uma visualização das chuvas que caíram em São Paulo desde 2010.

Em um formato de calendário anual, você pode comparar o volume diário de chuva em cada período, observando o tamanho do "pingo" da chuva. Para esse especial, destacamos as chuvas diárias iguais ou acima de 50 mm, marcando-as com gotas piscantes. Ao clicá-las, você pode relembrar a "história" da chuva daquele dia e os estragos provocados na cidade, além de reações e respostas de ações dos governantes à época dos acontecimentos.

Caso encontre uma data com uma matéria que cobre o dia anterior ou seguinte ao marcado no gráfico, isso não significa um erro. O Inmet faz consultas manuais todos os dias pela manhã nos pluviômetros espalhados pelo País. Quando uma chuva acontece após o horário de registro - digamos às 12 horas, por exemplo -, a quantidade de chuva daquele dia é registrado no seguinte.

O tamanho do traço indica o milímetro (mm) de precipitação

Clique na gota para conferir a "história" da chuva daquele dia


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entrevista

"A única forma de melhorar a previsibilidade do tempo é com mais dados"

Diogo Tolezano, fundador da Pluvi.on. Foto: Hélvio Romero / Estadão

Diogo Tolezano, cofundador da Pluvi.On - Foto: HÉLVIO ROMERO/ESTADÃO

Uma das consequências da falta de dados sobre as chuvas foi vivenciada pelo cofundador da Pluvi.On, Diogo Tolezano, uma das 552 startups ambientais criadas no Brasil nos últimos dois anos. Logo no começo das operações, Tolezano descobriu que teria que captar as informações, em vez de buscar as escassas informações disponibilizadas pelo governo brasileiro.

om base nos padrões dos eventos climáticos, a Pluvi.On une dados coletados por sensores em tempo real, na capital paulista, com o mundo do IOT (internet das coisas). O conceito do IOT é quando conectamos os objetos cotidianos à internet. A partir disso, os nossos objetos conseguem transmitir dados e criar uma rede de pertences conectados.

A junção do clima com a tecnologia foi a maneira encontrada para driblar a falta de dados. "Atender a demanda relacionada ao tempo é senso comum da área, não só na meteorologia. Ainda faltam muitos dados meteorológicos no País. E a dificuldade transcorre, por um lado, dos altos valores dos sensores e das estações meteorológicas, já que muitas delas são importadas", disse Tolezano.

Com cerca de 200 estações - todas de fabricação nacional - espalhadas em nove Estados brasileiros, a empresa consegue gerar dados de previsão do tempo, utilizando supercomputadores rodados na Islândia. Isso ajuda a reduzir o raio de previsão do tempo. Por exemplo, se a previsão apresentada cobre um raio de 20 quilômetros de uma cidade, a tecnologia ajuda a gerar alertas de previsão a cada 2,4 km.

Com tanta tecnologia, ainda é possível dizer que existe chuva atípica ou imprevisível? Essa é uma dúvida difícil de ser respondida, pois envolve uma série de fatores. "Uma série de estudos aponta que a temperatura dos oceanos tem aumentado nos últimos anos, o que naturalmente causa as pancadas de chuva, principalmente no verão. E aquela chuva que se forma quase que 'do nada' também está ultimamente ligada com a temperatura dos oceanos", explica. A tendência é de que tenhamos de enfrentar eventos cada vez mais estranhos. Então, sim, podemos afirmar que ainda existem chuvas imprevisíveis, mas o melhor jeito de se precaver é por meio de mais dados.

A captação própria de dados climáticos pode ser algo valioso para a empresa, mas isso também significou ter de adiar o seu projeto inicial - o chatbot São Pedro, que deve responder as perguntas que mais interessam a população. Vai chover? Está chovendo? Vai fazer frio ou calor? A ferramenta contou com o apoio de financiamento coletivo feito no ano passado.

De início, o chatbot, que poderá ser acessado via Messenger, do Facebook, vai focar cinco regiões de alta vulnerabilidade social de São Paulo. Para os próximos anos, a expectativa é de o projeto alcance todo o País. Esse passo ainda não foi dado por "questão de segurança", garante Tolezano. "É preciso ter muitos dados para poder fazer uma boa correlação entre eles, principalmente de eventos críticos como enchentes. Precisamos de alguns anos de dados para poder fazer uma recomendação do tipo 'vai encher onde você está'. A chance de causar mais caos do que benefício é grande."

Em seu mais recente relatório, o Painel Brasileiro de Mudanças Climáticas alertou, em 2017, alertou que o que o Brasil pode ser afetado com a falta de dados e disse ser difícil estimar com mais precisão as alterações climáticas e saber como adaptar as cidades.