Você já ouviu falar em robótica na nuvem? São robôs interagindo com outros robôs e acessando novos conhecimentos por meio da internet, como se fossem smartphones. Parece algo do futuro? Pois esta transformação já está em curso. Doutor pela Universidade de Kent, no Reino Unido, Sascha Griffiths falou com o Estadão QR para explicar o que é e quais são as diferentes funções desta área da robótica. Ele é especialista em áreas como interação robô-humano e computação em nuvem, além de atuar como gerente de Pesquisa da Ortelio Ltd, empresa que trabalha com robótica na nuvem e já oferece a Noos, um serviço de nuvem que disponibiliza aplicações para robôs.
Segundo Griffiths, “a robótica na nuvem é uma maneira de usar a computação moderna para implementar inteligência artificial ou, em um senso mais amplo, software e conhecimento em robôs.”. A ideia é evitar que cada robô tenha seu software específico, ou seja, permitir que os desenvolvedores de inteligência artificial possam programar para um número maior de robôs. Essa tecnologia tem um alcance tão amplo, que também pode ser usada em muitas propostas para a construção de cidades inteligentes nas próximas décadas.
O que é robótica na nuvem? Quais são suas funções?
A robótica na nuvem compreende três elementos: robótica, inteligência artificial (IA) e computação na nuvem. Antes de ter essa nomenclatura, ela era basicamente chamada de “web-enabled robotics” (robótica disponibilizada pela web). A ideia era que robôs, ao atingirem o limite de seus conhecimentos e habilidades, usariam a internet da mesma maneira como um humano usaria. Robôs consultariam um “mecanismo de busca” para eles, o qual, como o mecanismo do Google, falaria a língua deles. Neste paradigma, o robô seria majoritariamente autônomo e a nuvem seria um tipo de mecanismo de busca do qual retornaria conhecimento de um jeito que os robôs pudessem usá-lo. Na realidade, a maioria dos robôs não é totalmente autônoma.
A robótica na nuvem é uma maneira de usar a computação moderna na nuvem para implementar inteligência artificial ou, em um senso mais amplo, software e conhecimento em robôs.
Se a robótica na nuvem for usada em seu potencial total, não haveria necessidade de desenvolver software para um robô em particular ou para um tipo específico. Ao invés disso, nós podemos programar um software de uma maneira abstrata para que os métodos de inteligência artificial possam ser implementados em um número maior de robôs. Isso pode, por exemplo, ser relacionado à navegação (movimentação), reconhecimento facial ou de objetos, ou tarefas relacionadas a língua e discurso.
Como funciona a troca de dados e informação entre robôs através da nuvem?
Em essência, o robô vira um computador conectado à rede, em oposição a ficar preso com seus recursos e conhecimentos limitados. O robô pode ser conectado a uma rede e, finalmente, à nuvem, através de um cabo, wifi ou redes de telecomunicações. Atualmente a latência é ainda um dos problemas-chave da computação na nuvem. Redes de telecomunicações 5G são uma das grandes esperanças a esse respeito. Robôs se conectam à nuvem e trocam informações da mesma maneira que um dispositivo móvel – um laptop, tablet, celular – se conecta à internet. A questão é sempre tão rápida quanto a resposta é necessitada pelo robô. Um dos maiores desafios da robótica na nuvem é ter toda a computação avançada disponível para o robô, e ao mesmo tempo, permitir que a nuvem forneça respostas em um tempo aceitável.
A Ortelio, por exemplo, olha para soluções a fim de oferecer software a desenvolvedores de uma maneira mais rápida, o que significa que os métodos de implementação dependem da plataforma na nuvem, ou são diretamente baixados em uma plataforma robótica como um “app”. A ideia de uma loja de aplicativos para robôs vai ganhar espaço nos nossos futuros empreendimentos. A robótica ainda não está lá, ainda, mas estamos trabalhando em soluções que fazem a transferência de habilidades para uma plataforma robótica tão facilmente quanto se instala um aplicativo no seu celular.
Do que uma plataforma de robótica na nuvem é composta?
Uma plataforma de robótica na nuvem é essencialmente uma coleção de pacotes de software que residem em uma infraestrutura computacional mais poderosa do que uma plataforma robótica poderia prover sozinha. A robótica ainda está, em boa parte, se desenvolvendo em computação na nuvem. Assim, ainda há muito a ser aprendido sobre computação paralela, estrutura de servidor e comunicação entre nuvem e robô.
Quais são os maiores benefícios da robótica na nuvem? Por exemplo, quanto a questões de eficiência e diminuição de custos?
A robótica na nuvem faz robôs mais eficientes e reduz custos de soluções. Em seu cerne, a robótica na nuvem desobriga a necessidade de computação a bordo de um robô. Esses robôs podem ser construídos com capacidade mínima, mas podem ter acesso a um quase ilimitado de recursos computacionais.
Em um exemplo mais concreto, para um robô ter capacidades de aprendizado avançadas, seria “entregue” pelo fornecedor com um computador separado que pudesse lidar com algum “deep learning”. Entretanto, se o aprendizado não precisar ser em tempo real, o computador pode ser substituído por ainda mais poderosos recursos computacionais via nuvem. Essa é a principal maneira na qual a robótica na nuvem reduz custos. Tendo menos processos rodando em um robô se reduz o consumo de bateria. Isso é benéfico em termos de custos e eficiência, mas também em termos de tecnologias sustentáveis.
Qual é a importância da conectividade fornecida pela robótica na nuvem para cidades inteligentes?
Através da robótica na nuvem, robôs vão se tornar parte do mundo interconectado que as novas tecnologias estão criando. A robótica na nuvem é um meio de, especificamente, abordar a conectividade de máquinas em um maior ecossistema de inteligência artificial e internet interagindo com humanos e seus ambientes. Apesar de serem ambientes cada vez mais centrados em tecnologia, eles ainda são, no fundo, focados em humanos. Isso inclui carros autônomos, estradas inteligentes, prédios inteligentes e uma grande variedade de robôs. A conectividade de todos os dispositivos, dos quais alguns moram nos servidores e na internet e outros no mundo físico, vai aumentar . A robótica na nuvem é um meio de conectar robôs desde uma forma individual até a maior infraestrutura das cidades inteligentes.
As cidades inteligentes vão permitir acesso em tempo real do robô à programação da logística, tráfego, suprimentos, etc. Por sua vez, robôs podem reagir mais eficientemente às demandas das cidades. Em algumas partes de Londres, por exemplo, já existem testes para coleta autônoma de lixo. Ao invés de ter uma coleta de lixo em intervalos regulares, ela pode ser programada para um horário ideal. Isso evita transportar lixo em horários de pico e coleta redundante, para além de ajudar a aliviar o trânsito, já que os horários podem ser consolidados com informação em tempo real.