Cerca de 30 milhões de vagas de emprego podem deixar de existir até 2026 no Brasil, em decorrência do avanço das tecnologias de robótica e de inteligência artificial. O diagnóstico foi feito em um estudo do Instituto de Pesquisa Econômica e Aplicada (Ipea), publicado em março deste ano. O documento atribui, inclusive, probabilidade de sobrevivência ou extinção de determinadas funções.
A constatação é de que profissões rotineiras são as que mais devem sofrer com a automação. Por outro lado, as vagas que exigem relacionamento interpessoal mais sofisticado ou capacidade de resolução de problemas complexos devem continuar existindo no longo prazo.
Para o futurologista americano Martin Ford, o avanço da inteligência artificial pode levar a um mundo no qual não haverá trabalho para todas as pessoas. “Uma grande fração da nossa força de trabalho tem empregos fundamentalmente rotineiros e previsíveis. E não acho que conseguiremos fazer a transição de todas essas pessoas para novos postos de trabalho”, afirmou ao Estadão QR.
Leia a entrevista completa de Martin Ford no LinkedIn do Estadão QR
Fundadora da empresa Voicers, que prepara pessoas para o mercado digital, Lígia Zotini acredita que o contato com as máquinas que potencialmente poderão substituir funções repetitivas levará o trabalhador a se concentrar no que ele pode oferecer de melhor. “Se os profissionais se prepararem para entregar valor agregado na profissão de que gostam, verão a automatização e as máquinas não como algo que os levará ao desemprego, mas que os promoverá para as suas melhores versões profissionais”, diz a consultora.
Com a automação, quase todas as profissões vão mudar, na opinião de Ligia. “Todos os profissionais terão de reaprender a serem mais humanos, para que nós consigamos conectar o melhor da tecnologia com o melhor do humano. Quanto menos você conhecer o seu maior talento, mais alto será seu risco de automação.”
Leia a entrevista completa de Lígia Zotini no LinkedIn do Estadão QR
Como se preparar para a automação agora?
Mesmo quem está em profissões muito ameaçadas pela automação ainda pode se reinventar. O Estadão QR ouviu especialistas para saber o que pessoas com empregos com mais de 95% de probabilidade de automação podem fazer. Se é o seu caso, corra!
Gerente de Marketing
- Prepare-se para: investir mais em capacidades estratégicas para se tornar um profundo conhecedor das necessidades do usuário.
- Por quê?: atividades tradicionais do gerente de marketing, como a análise de métricas e resultados, podem passar a ser realizadas por robôs já nos próximos anos.
Engenheiro Eletrônico
- Prepare-se para: considerar atividades menos repetitivas ou trocar de área, por exemplo, para engenharia de telecomunicações – com maior chance diante do avanço do 5G.
- Por quê?: máquinas já podem realizar as atividades mecânicas da profissão, como projetar sistemas, especificar equipamentos, elaborar documentações e desenvolver processos eletrônicos.
Médico Patologista
- Prepare-se para: mudar para áreas menos repetitivas da própria medicina, que exijam mais capacidade de resolução de problemas.
- Por quê?: a rotina do médico laboratorial envolve análises sistemáticas e repetitivas, que poderão ser realizadas por robôs – inclusive, com maior precisão.
Intérprete
- Prepare-se para: buscar por profissões em que a tradução necessite de uma interpretação mais subjetiva. Carreiras ligadas à cultura ou à curadoria são uma opção
- Por quê?: com o desenvolvimento das tecnologias de tradução simultânea, essa profissão é uma forte candidata a sumir.
Telemarketing
- Prepare-se para: mudar radicalmente de profissão. A experiência em contato interpessoal da área pode facilitar a transição para outras ocupações que lidem com pessoas, como a de babá ou a cuidador de idosos.
- Por quê?: o operador de telemarketing realiza uma atividade altamente repetitiva. A automatização do profissional já está em curso, com o uso de robôs que fazem e atendem chamadas.
Recepcionista
- Prepare-se para: migrar para outra profissão. A habilidade de auxiliar pessoas facilita transitar para a área de educação e cuidados pessoais.
- Por quê?: as atividades do recepcionista são rotineiras e repetitivas. Câmeras, fechaduras inteligentes e sistemas de monitoramento digital já estão substituindo o profissional.
Enólogo
- Prepare-se para: investir também em habilidades interpessoais para fornecer a seus clientes experiências personalizadas no processo de consumo/alimentação.
- Por quê?: o trabalho de classificar vinhos por safras, rótulos, fabricações e paladares tem alta chance de ser automatizado, por ser muito repetitivo. É preciso agregar habilidade de relacionamento com clientes.
Administrador de Redes
- Prepare-se para: procurar outras oportunidades mais cognitivas, complexas e menos repetitivas na área das engenharias.
- Por quê?: é uma profissão com tarefas muito repetitivas. Nos próximos anos, muitas das suas funções podem ser substituídas por algoritmos e pelo avanço da Internet das Coisas.
Arquiteto de Edificações
- Prepare-se para: dar foco a projetos mais criativos, que proporcionem experiências únicas para os clientes. A neuroarquitetura é uma opção.
- Por quê?: funções técnicas, como elaborar planos e fiscalizar obras e serviços, poderão ser substituídas por inteligências artificiais que operem softwares de criação de projetos
Detetive Profissional
- Prepare-se para: migrar para outras ocupações que exijam a capacidade de solucionar problemas e mistérios, como a função de psicanalista, por exemplo
- Por quê?: cada vez mais as pessoas deixam pegadas digitais que podem ser colhidas e analisadas por algoritmos inteligentes, o que substitui os detetives.
Entrevistador de Pesquisas (opinião e mídia)
- Prepare-se para: trocar de área. Sua curiosidade por tentar entender as escolhas e as preferências das outras pessoas pode levá-lo a áreas de recursos humanos ou de análise.
- Por quê?: ferramentas de Big Data já substituem as pesquisas tradicionais, diminuindo o alto custo de realização das pesquisas presenciais. Isso torna esses profissionais ‘automatizáveis’.
Tesoureiro de Banco
- Prepare-se para: buscar outras opções que exijam funções mais cognitivas e menos repetitivas. A área de recursos humanos é mais estratégica.
- Por quê?: o trabalho rotineiro do sistema bancário pode ser facilmente automatizável. Já a evolução do dinheiro no mundo digital abre espaço para carreira em blockchain.