Anúncios de leilões de robôs no site Superbid
Grupo Superbid prevê que as vendas anuais de robôs usados devem se multiplicar por cinco nos próximos anos

Dou-lhe uma, dou-lhe duas, dou-lhe três! Vendido mais um robô usado

Mercado de leilão de equipamentos deve crescer nos próximos anos; maioria vem da indústria automotiva

A maior parte dos robôs descartados pela indústria automobilística, a mais automatizada no Brasil, não vira sucata. Muitos deles são leiloados e, depois de alguns reparos, estão prontos para operar em novas linhas de produção.

A expectativa é de alta no setor. Paulo Scaff, CEO da MaisAtivo, empresa de intermediação do Grupo Superbid, acredita que as 200 vendas que a plataforma realiza anualmente podem se multiplicar por cinco nos próximos anos. O principal motivo para esse aumento é a previsão de melhora no cenário econômico, que deve puxar para cima os investimentos do setor industrial.

“O Brasil passou por uma grave crise e as indústrias preferiram não investir em troca de maquinário”, afirmou Scaff. “Agora, com o mercado reagindo positivamente, os empresários devem voltar a investir. E isso vai fazer aumentar a disponibilidade de robôs para vender.” Segundo ele, a maior parte dos equipamentos leiloados pela plataforma vem de fábricas de automóveis, setor que lidera a automação também na indústria global.

“Para o setor automotivo, o robô tem uma vida útil. Muda-se a linha, projeta-se maior produtividade, precisa-se de um Usain Bolt dos robôs. O que acontece? Os robôs usados podem ser aproveitados por outras empresas”

Paulo Scaff, CEO da MaisAtivo

A Federação Internacional de Robótica (IFR) acredita que 3.500 robôs serão vendidos no País neste ano, um aumento de 194% em relação a 2016. Muitos desses robôs devem substituir outros mais antigos, tecnologicamente inadequados para as necessidades das fábricas originais.  Ao mesmo tempo, o mercado brasileiro ainda é tímido: no mundo todo, mais de 480 mil robôs devem ser vendidos.

Infográfico mostra que o Brasil representa menos de 1% do mercado de robôs industriais no mundo

A RobóticaSP é uma das clientes do site de leilões Superbid. Criada em 2012 no interior paulista, a empresa compra e conserta os robôs usados. Depois, revende para fábricas. De acordo com Rodolpho Alves, CEO da RobóticaSP, um robô que produzia um carro pode ser adaptado para outros setores de produção, como indústrias de alimentos, embalagens e bens de consumo, por exemplo. “Basta que ela tenha uma produção repetitiva e com movimentos uniformes.”

Um robô de segunda mão comercializado pela empresa custa, em média, R$ 35 mil. O valor de um novo varia de R$ 60 mil a R$ 600 mil. Em 2018, a RobóticaSP vendeu 68 robôs, um aumento de 51% em relação a 2017. 

Mesmo se não estiver em condições de ser utilizado em sua totalidade, o robô tem valor econômico. É possível desmontar o equipamento e vender separadamente as peças que estiverem em bom estado.

Ressuscitando um robô

Outra possibilidade é trocar as peças eletrônicas do robô, em uma técnica chamada de retrofitting. Professor do Departamento de Engenharia Mecânica da Universidade de Brasília (UnB), Alberto José Álvares colaborou com a elaboração de um método que substitui a central de comando dos robôs por uma nova, além de remodelar a movimentação da máquina em uma linha de produção. 


Segundo ele, existe potencial para que o retrofitting se torne um negócio rentável no Brasil, uma vez que há um grande parque industrial que deve ser renovado nos próximos anos. “Existem empresas no exterior que vendem controladores para fazer retrofit. A tecnologia existe. O que está faltando, realmente, são robôs disponíveis por baixo custo.”

Robôs usados sobre montagem com setas verdas
Um robô industrial pode ser requalificado para uma função diferente da que desempenhava antes

Álvares diz que a indústria brasileira demora mais para renovar seus equipamentos do que a do exterior. De acordo com montadoras e com empresas que leiloam os equipamentos, os robôs ficam de 10 a 20 anos em uso no Brasil, pela falta de investimentos em renovação das linhas. Em economias desenvolvidas, eles não chegam a completar uma década na mesma função. 

A técnica de retroffiting da UnB foi desenvolvida a partir de um robô da década de 1960, que foi doado à universidade. O robô em questão era usado para fazer soldas em uma linha de montagem da Fiat, na Itália. Depois de ser desativado na Europa, foi trazido para a fábrica brasileira da empresa, desempenhando o mesmo trabalho.

Tirado de linha por causa dos altos custos de manutenção e doado à UnB, o robô recebeu um novo sistema de controle criado em ambiente Linux, além de uma outra modelagem cinemática, ou seja, dos movimentos que pode fazer. O resultado é aberto a quem quiser utilizá-lo.

Álvares acredita que um robô usado pode ser tão eficiente quanto um novo, se for comprado por uma indústria que não necessite de uma solução integrada, ou seja, com vários robôs trabalhando juntos. “Se esse robô recebeu uma manutenção e ficou operacional, com todas as facilidades inerentes à tecnologia na qual ele foi concebido, ele vai ser tão eficiente quanto um robô zero-quilômetro.”

Robôs ABB usados sobre montagem com fundo roxo e laranja
O descarte de um robô é semelhante ao de um computador ou celular: só que é bem menos frequente

Nem sempre é possível salvar

Quando um robô vira sucata, seu descarte não é muito distinto do de um computador. É apenas menos frequente, segundo o professor Hugo Veit, da Escola de Engenharia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). “O robô tem uma estrutura de aço muito maior, mas na parte eletrônica é muito similar a uma placa de computador”, afirma. Segundo ele, há pouca pesquisa sobre reciclagem de robôs no País, justamente pela raridade do descarte desse tipo de material.

Uma das empresas que recebem robôs e máquinas industriais que viram sucata é a Cimelia. O desmonte dos materiais é feito no Brasil e, depois, os materiais são enviados a Cingapura, sede da empresa, para extração de metais que possam ser valiosos, por exemplo. Os planos da companhia para criar uma usina de reciclagem por aqui foram adiados, diante das incertezas econômicas. 

“Nossa tecnologia é alemã e japonesa. Trazer os equipamentos desses países para o Brasil é extremamente caro, por causa das taxas”, explica Ana Cláudia Drugovich, diretora-executiva da Cimelia no Brasil. Em uma tonelada de material processado pela empresa, é possível encontrar de 200 a 300 gramas de ouro ou de 300 gramas a um quilo de prata, por exemplo.

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