Direto ao ponto
02:24 Coração partido é um tipo de enfarte que parte o coração ao meio
09:10 Estresse profundo pode ocasionar a Síndrome de Takotsubo
12:12 Minha Vó Tá Certa? É possível morrer de amor?
16:14 Ajuda Aqui! Entenda como o sistema cardiovascular é cobrado nas provas
18:20 Manja do Assunto: Naiara Azevedo conta como é cantar sofrência
23:07 Prêmio IgNobel: Amor romântico pode ter grandes semelhanças com TOC
Coração partido é real
Apresentadores: Carla Menezes e Diego Kerber
(som de “bip”)
Carla Menezes: Ei! Eu queria fazer um comentário sobre colocar um coração do lado do nome do crush. Eu já levei bronca de uma professora uma vez porque eu escrevi na carteira, que era de madeira. E o nome ficou ali, cravado na carteira.
Diego Kerber: Nossa senhora!
C: É para eu me expor? Eu posso me expor?
(VINHETA: trilha sonora acompanhada de locução: “Você está ouvindo: Choque da Uva, a ciência no cotidiano”!)
(Entra trecho de música “Você Partiu Meu Coração”, do Nego do Borel)
Você partiu meu coração, mas meu amor não tem problema não
(Efeito sonoro – Disco riscado)
C: Tem problema, sim! A gente fica cantando os hits, jurando que coração partido é só invenção de comédias românticas, mas a gente descobriu que o coração pode partir de verdade!
D: Pois é, Carla! Coração partido é o apelido de um tipo de infarto que parte o coração ao meio depois de um grande estresse emocional, como uma briga ou uma tristeza profunda, por exemplo.
C: Por mais que o coração partido represente apenas 1% dos casos anuais de doenças do coração, o alerta é geral, viu? Afinal, todo mundo está mais estressado, mais sobrecarregado. E doenças assim vão ficar cada vez mais comuns, segundo especialistas.
D: E, cara, se tem uma coisa que aparece o tempo inteiro, são histórias de um amor não correspondido ou até de expectativas totalmente frustradas. Sempre estão entre as músicas mais tocadas, os filmes de grande sucesso e até em grandes clássicos da literatura.
C: Mas será que, além de toda essa poesia e dos milhões de livros sobre o amor, existe de fato alguma influência desse sentimento na nossa saúde?
D: Como será que o nosso corpo reage “na alegria e na tristeza”? Bom, a ciência explica.
D: Eu sou Diego Kerber.
C: E eu sou Carla Menezes.
D: E este é o Choque da Uva, o novo podcast que vai falar sobre ciência de uma maneira diferente. Nós estamos também nas redes sociais: é só procurar o @choquedauvapod, lá no Twitter, Instagram, Facebook e YouTube.
(Entra trecho da música “Corazón Partió”, de Alejandro Sanz)
¿Quién me va a entregar sus emociones?
¿Quién me va a pedir que nunca le abandone?
¿Quién me tapará esta noche si hace frío?
¿Quién me va a curar el corazón partió?
(Tradução: Quem vai entregar suas emoções pra mim? / Quem vai pedir que eu nunca lhe abandone? / Quem me cobrirá esta noite se faz frio? / Quem vai me curar o coração partido?)
C: Nem é preciso ir muito longe para encontrar relatos de corações despedaçados por um amor não correspondido. Inclusive desta apresentadora aqui porque a vida, meus amigos, ela não está sendo fácil.
D: Não está fácil. E se você já passou por isso ou foi o ombro amigo de alguém que estava nessa situação, com certeza vai concordar que um fora desses pode ser uma experiência dolorosa e até mesmo traumática, dependendo do caso.
C: Hoje, a gente vai entender como o nosso corpo processa o sofrimento e a sobrecarga emocional.
D: A gente chamou cardiologistas e um psicólogo para entender se o amor está no coração, na cabeça ou nos dois. E como o estresse gerado por um fora, uma briga ou uma tristeza profunda pode mexer com a nossa vida.
C: Lembra da síndrome do coração partido que a gente falou lá no início? Então, ela foi diagnosticada na década de 1990, lá no Japão, e por lá ficou conhecida como síndrome de Takotsubo. É isso aí, Takotsubo.
(VINHETA: Som de disco voltando, seguido de narração: “Momento Faraday!”)
C: Esse nome complicado é a junção de duas palavras: Tako e tsubo, o mesmo nome dado às armadilhas utilizadas pelos japoneses para pescar polvos. Calma aí que eu explico. Basicamente, o coração do paciente afetado contrai de uma forma que fica parecida com o jarro de barro que captura o animal pela cabeça. Sabe aquele jarro de barro que a sua avó tem lá no jardim ou até mesmo você tem, se você for pai ou mãe de planta?
D: Bom, para explicar melhor, primeiro a gente precisa entender como o coração funciona normalmente, beleza? Só para ficar todo mundo no mesmo barco.
C: E você aí achando que as suas aulas de biologia e química não iam ser usadas tão cedo, né?
D: Bom, vamos lá: pensa aí num coração. Não é aquele que você desenha ao lado do nome do crush não, tá? Esquece o romance. Imagine um coração de verdade e pense nele como principal responsável por bombear o seu sangue.
C: Ou seja, cada “turu turu” que você sente é, na verdade, uma bombeada de sangue. Isso só é possível graças às quatro cavidades que o órgão possui: duas são os átrios, por onde o sangue entra.
D: E as outras duas são os ventrículos, que é por onde o sangue sai. Então, resumindo, o seu sangue entra pela parte de cima do coração e sai pela parte de baixo.
C: Mas por que a gente está falando disso? Bom, tanto o coração partido como outras doenças do coração afetam diretamente esse funcionamento.
D: Exato. No caso da síndrome do coração partido, geralmente acontece uma superprodução de neurotransmissores que caem no seu sangue e chegam ao coração de um jeito que ele não estava preparado. Calma que a gente ainda vai explicar um pouquinho melhor sobre eles daqui a pouco.
C: Pensa aí numa situação: ganhei na Mega-Sena, quebrei a jarra que era herança da minha tataravó… ou simplesmente briguei feio com o boy. No meu caso, está mais fácil ganhar na Mega-Sena mesmo, viu, porque boy que é bom… Ao me deparar com situações desse tipo, o meu e o seu cérebros automaticamente acendem um alerta.
D: Isso literalmente manda uma mensagem para os seus neurônios com um aviso em Caps Lock de que vêm fortes emoções por aí. Isso serve para o corpo já ir se preparando por dentro e por fora. E é nessa hora que entram os neurotransmissores, como a noradrenalina, a dopamina e a adrenalina.
C: São eles que regulam nossas emoções e são ótimos para fazer a gente ficar em alerta em uma situação de emergência, funcionando como um empurrão extra do corpo para que a gente tome uma atitude. Ou seja, eles são supermaravilhosos e importantes para a gente, tanto que uma das principais deficiências biológicas das pessoas com depressão é a baixa produção deles. Mas sabe aquele ditado de que tudo tem um limite, que muita gente não conhece, por sinal? Então, isso se encaixa perfeitamente aqui.
D: Pois é. Muita gente associa esses neurotransmissores a situações de aventura ou medo, mas há casos em que eles são produzidos de forma tão intensa que “o coração não aguenta” e literalmente acaba se dividindo em dois.
C: E uma dessas partes, no caso o ventrículo esquerdo, para de funcionar e joga toda a responsabilidade de continuar bombeando o sangue para o resto do coração. Sabe quando você está fazendo um trabalho com um coleguinha e o coleguinha joga tudo para você? Pronto, é isso que o ventrículo esquerdo faz. É o que os médicos chamam de balonamento da ponta do coração transitório.
D: Bom, aí tem duas notícias: uma boa e outra ruim. Qual eu falo primeiro, Carla?
C: Você fala a boa.
D: Tá. A boa é que essa situação é passageira, porque geralmente o coração volta ao normal entre 7 e 30 dias depois.
C: A má notícia é que, enquanto tudo isso acontece dentro de você, os sintomas são de um infarto agudo do miocárdio, que é uma das principais causas de morte no Brasil, de acordo com o SUS (Sistema Único de Saúde).
D: Pois é. Inclusive, no fim de outubro, a desembargadora Maria Helena Gargaglione Póvoas, que é vice-presidente do Tribunal de Justiça de Mato Grosso, sentiu na pele esse perrengue.
C: É. Em uma entrevista à imprensa local, o genro dela confirmou que a sogra havia passado por uma situação de grande estresse quando começou a sentir o aperto no peito.
(Efeito sonoro – Sirene de ambulância)
D: Ela chegou a ser socorrida como se estivesse sofrendo um princípio de enfarte e teve de passar por um cateterismo, que é um exame para descobrir o que está acontecendo com seu coração e seus vasos sanguíneos. E aí que veio o diagnóstico: era realmente coração partido.
C: Agora, ela está fora de perigo, mas o susto foi grande, viu?
D: Olha, eu sinceramente não sei o que eu faria se acontecesse comigo, tá?
C: Eu não faço ideia.
D: De verdade. Mas fica aí o alerta, né? A gente tem de se cuidar. Até porque o coração partido não escolhe idade, viu? Qualquer um de nós pode ter essa síndrome.
C: E mulheres com mais de 50 anos precisam redobrar a atenção porque elas representam o perfil de maior incidência da doença. Aqui no Brasil, a gente quase não tem dados sobre a síndrome. Os dados que a gente tem são bem escassos. Mas lá nos Estados Unidos, por exemplo, um estudo de 2015 publicado pelo American Journal of Cardiology (gastei meu inglês aqui) mostrou que o número de diagnósticos em mil hospitais do país aumentou 19 vezes entre 2006 e 2012, passando de 315 casos para 6.230. E as mulheres entre 65 e 84 anos representaram mais de 90% dos diagnósticos, de acordo com os pesquisadores.
D: É muito número, mas é verdade. E não é só o coração partido não, tá? As doenças cardiovasculares, no geral, são as principais causas de morte no mundo, segundo a Organização Mundial da Saúde, a OMS.
C: Os números continuam sendo nada animadores: só em 2019, aqui no Brasil, problemas no coração resultaram na morte de mais de 350 mil pessoas, segundo o cardiômetro da Sociedade Brasileira de Cardiologia, que calcula a estimativa de mortes por cardiopatias no País em tempo real. Cara, são quase mil mortes por dia ou uma morte a cada 90 segundos.
D: Por isso, é muito importante cuidar do nosso coração, seja física ou emocionalmente, viu? Afinal, a sobrecarga emocional e o estresse são cada vez mais comuns no cotidiano das pessoas. Então, se liga!
(Música: Quando Você Passa (Turu Turu) – Sandy & Júnior)
C: Para a gente entender melhor como é um coração partido real e como a gente pode evitar isso, conversamos com o cardiologista Fernando Costa. Ele é diretor de promoção de saúde cardiovascular da Sociedade Brasileira de Cardiologia. Dr. Fernando, o término de um relacionamento, por exemplo, pode partir um coração?
Fernando Costa: Clinicamente, nós não podemos dizer do ponto de vista poético, o meu coração está partido porque eu perdi o grande amor da minha vida. Isso não tem nada a ver. Esse coração de que nós estamos falando é um coração que foi agudamente agredido por um estresse emocional com grandes cargas de adrenalina, noradrenalina e dopamina. E que alguns seres humanos podem desenvolver esse tipo de alteração de contração do coração que mimetiza, quer dizer, que se aproxima de um enfarte agudo do miocárdio. Então, nós não podemos interpretar a síndrome do coração partido como “meu coração está com uma flecha porque eu estou apaixonado e o cupido me deu uma flechada”. Não tem nada a ver. Nós estamos falando de uma alteração hemodinâmica de contração por causa de uma grande crise adrenérgica, mudando os parâmetros de contração deste órgão.
D: Essa crise adrenérgica de que o doutor fala nada mais é do que uma superprodução desses neurotransmissores que extrapola o que o corpo – ou o coração, no caso – é capaz de suportar. Ou seja, deixa de ser bom e passa a ser preocupante.
C: Voltando à explicação, a gente também conversou com o Carlos Alberto Pastore, cardiologista do Instituto do Coração, o Incor, e colunista da Rádio Eldorado. Doutor, além do nervosismo, o que mais pode causar essa síndrome?
Alberto Pastore: As situações que levam a isso são bastante conhecidas, né? Separações, perdas de emprego, coisas emocionais relação à família, muita tensão, sofrimento, depressão. Claro que prevenir estresse não é uma coisa muito fácil. Claro que se você quer tomar alguma medida para prevenir, realmente seria tentar não se estressar. Lembrando que o estresse é uma coisa da vida, a gente se estressa sempre, mas gerenciar esse estresse para situações importantes é muito importante. A mulher na menopausa, deprimida em geral, passando por muita tensão, pode realmente facilitar o o processo (do surgimento da síndrome), né?
D: Carla, e eu acho legal também a gente adicionar que os doutores explicaram que, para fazer o diagnóstico do paciente, o médico sempre vai levar em conta alguns fatores como, por exemplo, o grau de dor torácica, a situação emocional da pessoa, se ela começou a ter falta de ar do nada ou não, se a pressão dela caiu ou se ela teve arritmia.
(Entra trecho da música “Quando Você Passa”, de Sandy & Junior)
Nem estou dormindo mais
Já não saio com os amigos
Sinto falta desse turu, turu, turu, turu, turu, tu
(Entra a trilha sonora do quadro “Minha Vó tá Certa?”)
D: E chegou a hora do nosso quadro Minha Vó Tá Certa? Em todos episódios, a gente vai esclarecer algumas dúvidas e descobrir se é mito ou verdade aquelas coisas que a gente costumava ouvir ou ainda ouve da nossa vó, né?
(Entra trecho da música “Estado Decadente”, de Zé Neto & Cristiano)
No estado decadente que eu tô
A tristeza decora essa casa
Eu sei que ninguém morre de amor
Mas cachaça e saudade mata
C: É, pelo visto, até o Zé Neto e Cristiano concordam com a minha vó e acham que ninguém morre de amor. Mas será que é isso mesmo? O cardiologista Fernando tira essa dúvida.
Fernando Costa: As avós podem ter razão. Agora, ninguém morre de amor. Depende, você interpreta o término de um relacionamento de modo agressivo, tenso, onde essa pessoa é submetida a um grande estresse emocional, sim, ela pode ter problema não só da Síndrome de Takotsubo, como ela pode ter uma arritmia, pode ter enfarte agudo do miocárdio. Então, o que você precisa na sua vida é ter amor por você. Essa é primeira frase: amar a si próprio porque amando a si próprio você se preserva. Você encara situações como situações que podem ter sido agressivas, mas pensa que você é superior a tudo isso. A vida continua. Agora, se você deixar essa condição, deixar essa situação se avolumar, você pode desenvolver uma situação grave que é essa situação que foi mencionada hoje, de Takotsubo, que infelizmente tem sido cada vez frequente pelas situações em que as pessoas vivem e convivem no dia a dia, as desilusões, as situações de desagravo ou de alto estresse.
(Entra áudio da música “Don’t Worry, Be Happy, de Bobby McFerrin”)
D: É Carla. O cardiologista Fernando Costa também falou que qualquer pessoa pode passar por um grande estresse e desenvolver essa doença. Por isso, ele fala que o importante é ter autocontrole e entender o que está acontecendo na sua vida.
C: A melhor solução sempre é calma, bom senso e baixar o nível de estresse para evitar essa complicação. Eu pareço até a minha mãe falando, mas é isso mesmo.
(Trecho da música “Don’t Worry, Be Happy”)
Don’t worry, be happy
C: Para entender melhor como a gente pode controlar e até mesmo superar as desilusões amorosas, a gente tem aqui um momento de utilidade pública. Convidamos Marcos Lacerda, psicólogo, youtuber e autor do livro Amar, Desamar, Amar de Novo, para bater um papo com a gente sobre o assunto. Marcos, por que a gente se sente mal no fim de um relacionamento? É normal se sentir mal?
Marcos Lacerda: Qualquer perda faz a gente se sentir mal, porque isso mexe diretamente com a autoestima da gente, com a forma como a gente se vê, com a nossa autoimagem. Mas quando a gente é jovem, o grande sofrimento vem da gente se sentir nada. Se o outro me deixou é porque eu não tenho valor, é porque tem alguma coisa errada comigo. E isso não é necessariamente verdade. Sabe uma coisa curiosa que acontece? Quando uma relação acaba, a gente sempre se pergunta por que acabou. “Mas por que eu fui deixado, por que deixou de me amar, mas por que não me ama mais, o que é que deu errado?” Mas quando uma relação começa ninguém pergunta por que começou. É como se amar fosse algo absolutamente natural, que caísse do céu. E deixar de ser amado fosse alguma coisa que precisasse de uma explicação. E muitas vezes não tem nada a ver com você, tem a ver com o outro, com questões internas do outro, com o momento do outro que mudou. E a gente sempre traz para a gente, se diminui, se rebaixa. Isso desorganiza a gente psicologicamente.
D: Tá, mas quando a gente deve procurar ajuda psicológica? Quais são os sinais de alerta?
Marcos Lacerda: Quando isso começar a interromper a sua vida. Quando você não conseguir mais fazer coisas que você fazia. Quando isso se tornar de fato alguma coisa imobilizante. E você vai sobreviver a isso, como você já sobreviveu a muitas outras coisas.
(VINHETA: Trilha sonora acompanhada de locução: “Ajuda aqui!”)
Daniel Beto (professor): (cantando) Meu coração, não sei por que, bate feliz quando te vê…
(Entra trecho da música “Carinhoso”, de Pixinguinha, junto com o professor Daniel Beto cantando)
Bate feliz quando te vê
Daniel Beto: Olá, pessoal, meu nome é Daniel Beto, sou coordenador de Biologia do grupo Etapa. Agora você vai entender a letra dessa música e saber por que que esse órgão bate feliz quando vê alguém que gosta. Fortes emoções, estresse, situação de luta e fuga ou mesmo exercícios físicos ativam um dos ramos do sistema nervoso autonômico, que é o chamado sistema nervoso autonômico simpático, um ramo não voluntário do sistema nervoso e que, através da liberação de neurotransmissores, substâncias químicas como a noradrenalina, vai provocar taquicardia, aumentando o ritmo dos batimentos cardíacos, como diz a letra da música, deixando o coração um pouquinho mais acelerado. E, numa situação de relaxamento, um outro ramo do sistema nervoso autonômico, o chamado parassimpático, vai promover a liberação da acetilcolina, que vai provocar uma bradicardia. O que é isso? É uma redução do ritmo dos batimentos cardíacos. Portanto, para os vestibulandos, é interessante conhecer o desenho da anatomia do coração, das quatro cavidades, e também saber do ramo simpático e parassimpático do sistema nervoso autonômico, acelerando e retardando, respectivamente, o ritmo de batimento cardíaco em situações específicas. Espero que eu tenha ajudado. Um forte abraço!
(Fim do áudio da música “Carinhoso”, acompanhada de transição de trilha sonora)
C: Se tem uma coisa que o brasileiro entende é de coração partido. Não é à toa que a sofrência faz tanto sucesso por aqui.
D: É, eu acho que essa é a prova de que o brasileiro sofre, mas pelo menos se diverte! E a gente trouxe uma pessoa que entende desse assunto muito melhor do que a gente. Acompanhe a entrevista da repórter Marina Cardoso com a cantora Naiara Azevedo!
(VINHETA: Trilha sonora acompanhada de locução: “Manja do assunto!”)
Marina Cardoso (repórter): Oi, Carla e Diego. Oi, gente! Pois é, eu nem preciso fazer muito suspense para dizer que a nossa entrevistada de hoje é realmente entendida do assunto. Afinal, ela ganhou fama com uma das músicas mais emblemáticas no assunto desilusões amorosas.
(Entra áudio da música “50 Reais”, de Naiara Azevedo)
Essa música que vou cantar agora é uma história verídica e essa história aconteceu comigo…
Marina Cardoso: Isso mesmo! Naiara Azevedo, a dona e proprietária dos 50 Reais, é a nossa convidada de hoje! E para começar nossa entrevista, vou fazer uma pergunta só por desencargo de consciência mesmo, porque duvido muito que alguém ainda não saiba a resposta. Mas, por favor, explique um pouco o que é a sofrência?
Naiara Azevedo: Olha, sertanejo, sofrência, na verdade, não passam de músicas que cantam sentimento. No caso sofrência, são letras com histórias e a grande maioria dessas histórias tem alguém sofrendo muito por amor. Então, é muito gostoso você cantar o sentimento, você emocionar as pessoas e muitas vezes se emocionar junto também, né? Contar sobre as histórias da vida real. A grande maioria é de histórias da vida real. Acho que foi por isso que se popularizou e se tornou um movimento tão grande, né? A famosa sofrência.
Marina Cardoso: Naiara, como é a sua experiência e interação com o público no show?
Naiara Azevedo: É uma emoção muito grande. Primeiro, de você ter o público, milhares de pessoas cantando com você. Às vezes, a nossa composição, às vezes a composição de outras pessoas, mas o sentimento é sempre o mesmo, né? Sentimento de carinho do público, esse sentimento de você ver as pessoas se emocionando e muitas delas cantando com tanta vontade a ponto que não precisa pessoa falar nada para você e você já entender que, sim, aquela história é dela, aconteceu com ela aquilo. Ou se não aconteceu exatamente aquilo, foi algo muito similar, muito parecido. Então, é muito bacana.
Marina Cardoso: Você acha que é tipo uma terapia coletiva ou alguma algo do tipo?
Naiara Azevedo: Olha, de fato faz sentido sim, uma terapia coletiva, porque muitas pessoas estão cantando ali o seu sentimento, e a maioria das pessoas está sentindo a mesma coisa. Então, as pessoas, mais ou menos assim – como eu posso dizer? -, elas se entendem, se abraçam, bebem juntas e confraternizam aquele momento.
Marina Cardoso: E como é pensar que as pessoas estão ali cantando e se divertindo, mas que tem uma galera com o coração partido?
Naiara Azevedo: Eu acho que é mais uma diversão mesmo. Eu falo por mim, o meu show, né? Eu diversifico bastante o meu repertório de show. Quando as pessoas vão ali para curtir, eu faço uma sofrência, então eu faço uma música que fala de sofrimento, de traição, a próxima eu já canto uma música de superação, de volta por cima… Então, eu diria assim que é uma sofrência gostosa. A gente canta uma música ali, em que a pessoa se lembra de que ela passou por uma situação difícil, se lembra de que ela sofreu por amor, se lembra de que tem um sentimento ali latente que ainda está doendo. Logo em seguida, a pessoa abre uma e eu já coloco uma música dançante. A pessoa já dança e curte, entende que é a hora de “vamos deixar para depois isso aí e dar a volta por cima”’. Acho que é mais ou menos assim. É como se fosse uma montanha-russa de sentimentos.
Marina Cardoso: Acho que já sei a resposta, mas você já teve o coração partido? E como isso foi importante para você entender o seu público?
Naiara Azevedo: Com certeza. Se eu não tivesse tido meu coração partido, talvez eu não saberia entender o sentimento dos outros e teria dificuldade para montar um repertório. Porque nada melhor do que a gente sentir a dor do outro para poder compartilhar do mesmo sentimento.
Marina Cardoso: Naiara, obrigada pela conversa! Obrigada, pessoal! E continuem aí no papo da sofrência!
(VINHETA: Trilha sonora acompanhada de locução: “Com vocês, Prêmio IgNobel”)
C: O Prêmio IgNobel deste episódio vem direto do ano 2000. Os vencedores da categoria de Química daquele ano descobriram que o amor romântico – olha só – pode ter grandes semelhanças com casos de transtorno obsessivo-compulsivo, o famoso TOC. Surpreenderam um total de “zero pessoas” (risos) com esse estudo.
D: Pois é. Essa pesquisa surgiu de um questionamento: a fase inicial do namoro – aquela em que a gente está sempre muito apaixonado, quer ficar o tempo inteiro do lado da pessoa – é uma forma com a obsessão? Os pesquisadores tinham duas hipóteses: o romance está literalmente no sangue das pessoas? E, se esse for o caso, teria realmente semelhanças com o sangue de quem tem TOC?
C: Para desvendar esse mistério, eles analisaram os níveis de serotonina nos cérebros de 60 pessoas. Para quem não se lembra, a serotonina é um neurotransmissor muito importante para a sobrevivência do nosso organismo e é associado ao sentimento de alegria, satisfação, excitação ou até mesmo a depressão.
D: Tá, mas voltando à pesquisa, os participantes foram divididos em três grupos. E cada grupo era formado por 20 pessoas. Um desses grupos tinha pessoas com TOC, outro tinha pessoas que se apaixonaram nos seis meses anteriores à coleta da amostra sanguínea e o terceiro tinha pessoas que não tinham TOC nem estavam apaixonadas.
C: Mas como delimitar o que é estar apaixonado? Por falta de um conceito científico, eles estabeleceram alguns critérios: ter se apaixonado nos últimos seis meses, não ter tido relações sexuais com o parceiro ou parceira e passar pelo menos quatro horas por dia pensando na pessoa amada.
D: Os cientistas decidiram investigar a existência de uma relação entre serotonina, o estado apaixonado e o metabolismo de quem tem TOC. O resultado? Bom, descobriram que, sim, é possível ficar “doente” de amor.
C: Ao comparar o nível de serotonina dos três grupos, os cientistas chegaram à conclusão de que o nível do neurotransmissor no sangue dos apaixonados era tão baixo quanto o das pessoas diagnosticadas com TOC.
D: A falta de serotonina pode levar a um comportamento obsessivo, de ciúme irracional. E, além disso, um ano depois, eles voltaram a fazer testes com as mesmas pessoas e – pasmem – seis delas continuavam apaixonadas pelas mesmas pessoas, mas não pensavam mais nelas com tanta frequência assim.
C: A presença de serotonina se tornou similar à de casais que já estão casados há muito tempo. Então, aqui vai uma dica: quer saber se o boy está apaixonado por você? Teste o nível de serotonina dele!
D: Fácil!
(Trilha sonora de encerramento do podcast Choque da Uva)
D: E este foi o Choque da Uva, o novo podcast de ciência que explica tudo que você está a fim de saber.
C: Eu sou Carla Menezes.
D: E eu sou Diego Kerber.
C: Esse episódio teve roteiro de Marina Cardoso e Luiz Carlos Pavão.
D: A produção ficou com a Marcela Coelho, o Léo Martins e o Bruno Nomura e a edição foi de Bárbara Rubira.
C: Aproveita e segue a gente nas redes sociais: somos o @choquedauvapod no Twitter, Instagram e Facebook e Youtube!
D: Esse programa foi produzido pela 30ª turma do Curso Estado de Jornalismo, os Focas do Estadão. Até o próximo episódio! Tchau, tchau!
C: Tchau, tchau!
(Encerramento da trilha sonora)