Direto ao ponto

02:22 Pesquisador da Ufersa Jefferson Dombroski explica a relação entre o uso de pesticidas e a morte das abelhas

03:58 Momento Faraday: Conheça um dos principais venenos contra abelhas

21:18 Minha Vó Tá Certa? O mel realmente traz benefícios para a saúde?

24:11 Manja do Assunto: Ursinho Pooh fala sobre sua paixão por mel

26:33 Ajuda Aqui! O papel ecológico das abelhas

29:39 Prêmio IgNobel: Índice dos locais do corpo mais dolorosos para ser picado por abelhas

As abelhas estão sumindo
Apresentação: Guilherme Bianchini e Mariana Hallal

*Toca um bip para indicar uma conversa de bastidores.

G: Cara, teve uma vez que eu estava indo ao trabalho do meu pai. Aí estava a caminho da grande barca.
M:  Barca?
G: É. É um transporte lá que tem de Niterói para o Rio. E no meio do caminho, chegando perto da estação, senti uma dor excruciante no meu pescoço. Meu pai não entendeu o que estava acontecendo. Depois, fui entender que tinha sido uma grande picada de abelha. Ficou aquele ferrão encravado no meu pescoço.
M:  E quantos anos você tinha?
G: Eu devia ter uns 10 anos de idade, por aí.
M:  E depois disso não quis matar todas as abelhas do mundo?
G: Não.

(VINHETA: Trilha sonora acompanhada de locução: “Você está ouvindo Choque da Uva, a ciência no cotidiano!”)

(Entra áudio da música “Doce Mel” – Xuxa)
Doce, doce, doce
A vida é um doce
Vida mel

G: Eu sou Guilherme Bianchini.
M:  E eu sou Mariana Hallal. E este é o Choque da Uva
G: Neste episódio, a gente vai falar de abelha. Vamos mostrar a importância delas e tentar entender o que está causando a morte desses insetos. 
M:  Os dados alarmantes de desaparecimento das abelhas são conhecidos há bastante tempo na Europa e nos Estados Unidos. Aqui no Brasil, eles começaram a chamar a atenção a partir de 2005.
G: Ainda não existem dados oficiais. Mas um levantamento feito pela Agência Pública, em parceria com a ONG Repórter Brasil, mostra que meio bilhão de abelhas morreram entre dezembro de 2018 e março de 2019.

(Entra áudio de notícia do “Repórter Brasil”, da TV Brasil. sobre morte de abelhas)
Marcelo Castilho (apresentador): A quantidade de abelhas mortas no Brasil nos últimos meses tem causado preocupação entre cientistas e estudiosos do meio ambiente. O problema está ligado ao uso de agrotóxicos.

M: O número de abelhas mortas pode ser ainda maior porque nem todos os criadores registram as perdas.
G: Para vocês terem uma ideia, esse número é maior do que a população de toda a América do Sul.
M:  O que muita gente não sabe é a importância que as abelhas têm para nossa vida. Só aqui no Brasil, há mais de 300 espécies de abelhas nativas. Se for contar com as estrangeiras, já vai para 1.600. Os dados são do Ibama.   

(Áudio de notícia do “Fantástico”, da TV Globo, sobre o mundo sem abelhas)
Tadeu Schmidt (apresentador): E como seria o mundo sem abelhas? Não seria apenas um mundo menos doce, sem mel, não. Seria um mundo sem maçãs, sem peras, abacates, abóboras, melões, melancias, cerejas, pimenta, chocolate, café. A lista não tem fim.
Poliana Abritta (apresentadora): A maior parte dos alimentos cultivados depende da polinização. Só que alguns agrotóxicos usados em lavouras estão matando as abelhas e, assim, ameaçando o equilíbrio tão importante para todos nós. 

M:  A  gente conversou com especialistas para tentar entender por que as abelhas estão desaparecendo. Eles nos contaram também a importância delas e o que pode ser feito para mudar essa situação.
G: A gente falou com o Jeferson Dombroski, que é pesquisador da Universidade Federal Rural do Semi-Árido, a Ufersa. Ele tem uma pesquisa que relaciona os pesticidas com a morte das abelhas.
M:  A gente sabe que as abelhas estão morrendo, isso é fato. Mas o que está acontecendo, Jeferson? Qual é a possível causa para esta morte das abelhas?

Jeferson Dombroski: Uma causa possível é um fenômeno que foi identificado como colapso de colônias, que causa morte massiva de abelhas. E a outra possibilidade, que muitos produtores de mel no Brasil comentam, é que, como eles alugam as colmeias para os produtores de fruticultura para fazer a polinização das culturas, o produtor de mel vai lá, leva suas caixas de abelha para uma produção de melão, por exemplo, como ocorre aqui no Rio Grande do Norte, e deixa essas abelhas lá para fazerem a polinização na época em que o melão está florido. E alguns denunciam que perdem uma parte dessas colmeias porque o produtor não cuida, não tem o devido cuidado de fazer as pulverizações quando as abelhas não estão lá. E, com isso, há denúncias de morte.  

G: Como vocês chegaram a essas hipóteses?   

Jeferson Dombroski : A gente conseguiu tocar um projeto com financiamento de uma instituição inglesa. Fizemos análise de 108 amostras de abelhas. Dessas 108 amostras, a gente percebeu que a grande parte daquelas mortas estava fortemente envenenada com um grupo de venenos que a gente pesquisou, que são os neonicotinoides e o fipronil. Especialmente, a gente identificou muito fipronil nessas abelhas.

G: Opa, pera aí. Mas o que é o fipronil?   

(VINHETA: Som de disco voltando, seguido de narração: “Momento Faraday!”)

M:  É um agrotóxico usado basicamente para matar insetos. E tem uma taxa de sucesso de cerca de 95% em três dias, contra formigas, baratas e vespas. Ele permite que o inseto retorne à sua colônia e infecte os demais membros. E é aí que está o problema, Guilherme.  
G: Por quê?
M:  Porque as abelhas sem ferrão, que são as espécies nativas, mostraram reações adversas ao pesticida, incluindo convulsões, paralisia e morte.
G: Segundo os pesquisadores da Ufersa, que analisaram amostras de abelhas entre 2014 e 2017, no período de quatro anos, 770 milhões de abelhas foram mortas, em 18 Estados, por dois tipos de inseticidas, que são os neonicotinoides — derivados da nicotina — e o fipronil, que é nosso Momento Faraday de hoje. Dá para ter uma noção de quão prejudicial é o uso desse inseticida para a vida das abelhas?   

Anselmo Kuhn: A criação de abelhas no Rio Grande do Sul tem tido bastante problema nesses últimos dois anos. Tivemos alguns problemas dos agroquímicos, com muita mortandade de abelhas: cerca de 6 mil colmeias do ano passado para a virada deste ano.  

G: Esse é Anselmo Kuhn, presidente da Federação Apícola do Rio Grande do Sul, o principal Estado produtor de mel do País.   

Anselmo Kuhn: É bastante preocupante para nós quando o volume de perdas é grande. Também há uma perda silenciosa, que são aquelas abelhas que, às vezes, são contaminadas, porém não morrem na hora, mas vão definhando e, aos poucos, se perdendo esses enxames. 

M:  Qual o motivo dessa perda? Há relatos de apicultores que explicam essa situação?  

Anselmo Kuhn : O motivo da grande perda das abelhas realmente são os agrotóxicos. Nós, apicultores, não temos dúvida quanto a isso. A maior parte realmente vem dos agrotóxicos. A população das colmeias vai diminuindo e, com isso, acaba mais adiante se perdendo todo o enxame, toda a colmeia. Para nós não há dúvida. Nós sabemos e os apicultores que estão nessas regiões têm uma clareza muito grande de que provém realmente dos agrotóxicos.   

M: Consultado, o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) respondeu que o declínio das populações de abelhas também pode estar relacionado a outras causas. Segundo o instituto, além do uso autorizado de agrotóxicos, destacam-se “perda de habitats, empobrecimento da vegetação natural em razão de monoculturas ou cultivos transgênicos, desmatamentos, queimadas, mudanças climáticas e manejo inadequado ou outras ações antrópicas”. A atuação do Ibama em relação às abelhas está mais limitada ao registro de agrotóxicos potencialmente nocivos a esses organismos.

(Transição de trilha sonora)

M:  Esse que vai falar com a gente é o Aroni Sattler, que estuda abelhas desde 1973 e nos dá um panorama da situação que tem levado à morte em grande escala das abelhas.
G: Por que houve aumento na área de atuação dos agrotóxicos?

Aroni Sattler: Não tem limite para soja e com essa expansão é que a gente percebe cada vez um problema maior para a apicultura. Para nós aqui no Sul do Brasil, está igual. Para o Centro-oeste, também. Na região do Cerrado, a soja está entrando para tudo que é lado. Lá naquelas grandes extensões, simplesmente não há mais abelhas. Então, veja que a questão não é só prejuízo direto do apicultor e dos agricultores que usam abelhas para polinizar. Nós, com abelhas africanizadas, temos muita abelha e abrigos naturais que ninguém quantifica o serviço que elas estão prestando.

M:  Essa questão pode ser um problema de falta de informação por parte dos agricultores?   

Aroni Sattler: Falta de informação também, pode ser parcial, mas não é o principal. É falta de conscientização, aquela prioridade. Porque esse pacote tecnológico tem um aspecto muito negativo. O pessoal já compra o pacote e pronto. Não esperam vir as pragas para ir correndo comprar um inseticida. Eles compram semente, adubo defensivo, tudo junto. Tudo é financiado pelo banco. Então, ele já tem que financiar tudo junto. E aí fica muito fácil de aplicar porque já está lá. Já está o pacote pronto. Então, aplicam de forma preventiva, e não curativa. Se fizesse primeiro uma avaliação do nível de dano econômico de uma praga, talvez não precisasse usar os produtos naquele momento. 

G: São várias abelhas afetadas, mas quais são os tipos específicos que são mais atingidos por esses males que a gente mencionou aqui?

Aroni Sattler : Os mais afetados, com repercussão mais imediata, que os apicultores botam a boca no trombone, é com Apis mellifera — a abelha com ferrão, a nossa abelha africanizada. Porque aí o apicultor, de um dia para o outro, percebe que as colmeias estão morrendo. Então, ele se manifesta. E tem alguns casos assim, que estão aumentando agora, na criação das abelhas nativas, que são as nossas abelhas sem ferrão. Coevoluíram com as nossas espécies botânicas, estão aqui há milhares de anos. A Apis mellifera veio para a América em 1839. Ela não é nativa daqui. Ela era da Europa e da África. Temos várias espécies espalhadas da nossa abelha nativa. Cada região tem a sua. Porque elas evoluíram aqui e fixaram características que as mantiveram vivas até hoje. Então, essas abelhas nativas estão em tudo que é abrigo natural. Mas tem o que a gente chama de meliponicultor, que é aquele cara que cria essas abelhas Melipona. Tem as domesticadas, produzindo em colmeias racionais, mas tem muito mais nos abrigos naturais por aí. E aí, à medida que vem o desmatamento, que vêm as queimadas, essas abelhas vão sendo eliminadas. E as que sobram o uso dos agrotóxicos elimina depois. Então, nós já perdemos muitas espécies. Cada vez está diminuindo mais.

M:  Dá para entender, agora, o que está acontecendo. E não se trata de uma morte natural.
G: Muito pelo contrário, né, Mariana? A falta de fiscalização e o uso de pesticidas pelos agricultores é o que está levando a esse triste cenário.  
M:  Mas, Aroni, tem alguma coisa que os produtores rurais podem fazer para tentar amenizar essa situação? 

Aroni Sattler: Eu acho importante destacar que isso poderia ser amenizado, bastando boas intenções e boa vontade nessa relação do agricultor com o apicultor. Então, isso favoreceria enormemente a produtividade de uma série de cultivos, porque mais de 70%, 80% dos cultivos são favorecidos pela presença da abelha que poliniza. Então, quando tem alguma crise por causa do câmbio ou pela demanda internacional, que baixa o preço de alguma commodity, aí todo mundo reclama quando perde 5% ou 10%. Só que eles estão todos os anos perdendo 5%, 10%, 15% de produtividade porque não controlam, porque ficam eliminando os polinizadores. É um trabalho praticamente gratuito para eles. Então, esta consciência da importância dos polinizadores seria uma solução. Pelo menos uma boa parte do problema seria contornado.  

M:  Para além dessa situação que vem se naturalizando com o passar dos anos, nós precisamos entender por que as abelhas são tão importantes para as nossas vidas.
G: Além do principal trabalho que as abelhas fazem, que é polinizar, elas são extremamente importantes para o cultivo de alimentos, que dependem delas para se desenvolver.
M:  De acordo com a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura, a FAO, 75% dos alimentos cultivados no mundo dependem das abelhas.  
G: Quando vai colher o néctar, a abelha leva o pólen de uma parte para a outra da flor — a gente lembra bem disso na escola — e também de uma flor para a outra. Sem isso, a planta não se reproduz. 
M:  É isso que nos conta a Tereza Cristina Giannini. Ela é pesquisadora do Instituto Tecnológico do Vale e autora de diversos estudos sobre a importância de polinizadores nas plantações do Brasil.

Tereza Cristina: Os polinizadores têm o papel fundamental de auxiliar as plantas no seu processo de reprodução. Como esses animais coletam néctar e pólen nas flores para se alimentar, eles acabam carregando os grãos de pólen, que são os gametas masculinos das flores, de uma planta para outra. E isso ajuda na fertilização do óvulo das flores femininas, resultando na formação de frutos e de sementes. Então, isso é superimportante tanto para ambientes naturais, uma vez que esses frutos e sementes servirão de alimento para muitos outros animais, quanto para áreas de cultivos agrícolas, pois garante a produção das culturas. Algumas culturas dependem fortemente de polinizadores. Por exemplo, o maracujá, a melancia, o melão, o cupuaçu e a acerola só produzem frutos se forem polinizados. Se não houver polinizadores, a polinização deverá ser feita manualmente, o que encarece demais o produto. Por isso, os polinizadores têm ganhado atenção internacional, com programas de pesquisa e de proteção vinculados, por exemplo, à Organização das Nações Unidas, já que é um caso de segurança alimentar mundial.

(Áudio da música “Mel”, de Caetano Veloso)
Ó abelha rainha faz de mim
Um instrumento de teu prazer

M:  Conversando com os especialistas da área, a gente descobriu que tem como fazer essa polinização manualmente, mas o custo é alto. E imagina o trabalhão que isso vai dar.
G: E esse trabalho todo as abelhas fazem de graça. E de forma natural!
M:  Pois é, Guilherme! E para ajudar a entender um pouco mais da importância das abelhas — desta classe trabalhadora, digamos assim (risos) —, a gente voltou a conversar com Jeferson Dombroski. Lembrando que ele é pesquisador da Ufersa.
G: Professor, qual é a importância das abelhas para a sociedade e como seria o mundo sem elas? 

Jeferson Dombroski : Todos os levantamentos sobre o que aconteceria se as abelhas fossem extintas são catastróficos. Há lugares no planeta em que houve uma redução muito grave das populações de abelhas e a polinização tem que ser feita à mão. Então, pessoas são contratadas para ir passando de flor em flor com algo parecido com cotonete e aplicando pólen nas flores. Esse é um serviço ambiental que as abelhas fazem de graça com extrema competência. Contratar gente para fazer isso é um desastre. Sem falar que, para muitas culturas, e para muitas plantas nativas, isso pode ser absolutamente terrível, catastrófico.

M:  A gente sabe que, além da polinização, ela ajuda muito no ecossistema, certo?    

Jeferson Dombroski : A abelha é muito, muito importante para a sanidade do ecossistema. Um ecossistema equilibrado tem de ter abelha. Abelha é o principal polinizador, talvez, de uma grande maioria das plantas com flores e sementes. Assim, o extermínio dessas das abelhas — e aqui eu estou falando da nossa chamada abelha africanizada, o pessoal chama de abelha europeia, a Apis mellifera — é uma questão muito séria, que tem de ser vista com muito cuidado.  

G: Por que o senhor diz isso?

Jeferson Dombroski : A gente consegue monitorar o que está acontecendo com essas populações desse inseto porque os produtores estão cuidando e estão tirando o lucro delas. Mas e as abelhas nativas? Aquelas abelhas sem ferrão? Aquelas que fazem pequenas colmeias? Ninguém está monitorando ou o monitoramento que existe é muito pouco. São os poucos grupos de biólogos que acompanham isso. Então, temos interesse. À medida que consigamos o recurso para fazer essas pesquisas, que são bastante caras, queremos fazer um estudo para monitorar como está o estado dessas abelhas nativas, as abelhas sem ferrão.

(Entra trecho da música “Abelha”, de João Bosco e Vinicius de Moraes)
Como uma abelha pousa numa flor
Mansa, você chegou me dando amor

M:  É, Guilherme. Tem base legal para considerar a morte das abelhas como crime ambiental. É o que está escrito no artigo 56 da lei de crimes ambientais. Segundo parte dessa lei, é crime “ter em depósito ou usar produto ou substância tóxica, perigosa ou nociva à saúde humana ou ao meio ambiente, em desacordo com as exigências estabelecidas em leis ou nos seus regulamentos”.
G: Mas o que a gente, em casa, pode fazer para mudar isso, para tentar reverter essa situação? 
M:  Por exemplo: ter plantas em casa, principalmente ervas daninhas, ajuda muito a manter vida das abelhas urbanas.
G: Pois é, uma das pessoas que estuda esse assunto é o Tiago Mauricio Francoy, professor de Ciências da Natureza da Escola de Artes da USP e especialista em abelhas. Ele diz que pequenas ações podem ser feitas no dia a dia. 
M:  Então, Tiago, a gente sabe que muita gente tem medo da picada das abelhas. Mas, apesar desse medo, o que a gente pode fazer para ajudá-las nas áreas urbanas? Ter vasos de flores é um bom caminho? 

Tiago Francoy: Só o fato de você plantar flores na sua casa, no seu jardim, e até florzinhas que a gente nem dá muita importância, por exemplo, um pezinho de manjericão, já ajuda. As abelhas adoram flor de manjericão. Girassol ou mesmo plantas maiores que você coloca. Algumas trepadeiras. O simples fato de você plantar flores já faz uma diferença enorme para as abelhas. Principalmente em áreas urbanas, onde a gente vê tudo muito cinza. Então, uma pequena plantação de flores já é uma coisa importante para as abelhinhas. É um oásis no meio deste deserto de flores em que a gente vive.  

M:  Os inseticidas que a gente usa para matar aquele mosquito antes de dormir prejudicam a vida das abelhas?

Tiago Francoy: Esse inseticida que você passa em casa para matar um pernilongo ou outro antes de dormir no quarto, como é aplicado dentro de casa, não tem um efeito muito prejudicial. Uma coisa que afeta um pouco as abelhas em ambientes mais urbanos é quando passa aquele caminhão da nebulização contra o mosquito da dengue. Mas basta ter um aviso prévio da prefeitura dizendo que à noite vai passar o caminhão. Você simplesmente fecha a entrada da colmeia, bloqueia para o veneno não entrar lá. No dia seguinte, você abre e é como se nada tivesse acontecido. Então, em ambientes urbanos, é uma coisa menos prejudicial.

G: Criar abelhas em casa parece uma ideia um pouco abstrata e longe de acontecer para alguns. Mas é como a Tereza contou para a gente: tem outras opções e formas de ajudar nesta campanha contra a extinção das abelhas.   

Tereza Cristina: Para as cidades, tem sido sugerido que se mantenham jardins com plantas nativas que ofereçam alimento para os polinizadores. Existem, também, formas de se oferecer cavidades para as abelhas construírem seus ninhos, como bambus ou bloquinhos de madeira com furos de diferentes larguras. 

G: Já que estamos aqui falando tanto de abelhas, não poderíamos deixar de falar do que de melhor vem delas.

M: (cantando) “Doce mel…”
G: (cantando) “Doce mel…”

(Entra trecho da música “Doce Mel”, da banda Calypso)
Você colocou em minha boca
Doce mel, doce mel
Despertando essa paixão louca

M:  É isso aí, Guilherme. O mel é um dos alimentos mais consumidos pela humanidade desde o tempos em que a gente vivia nas cavernas. 
G: Tem até uma pintura rupestre bastante famosa nas cavernas de Aranha, em Valência, na Espanha.
M: Tá viajado, hein?
G: (Risos) Os desenhos, de mais de 8 mil anos, mostram uma pessoa coletando mel direto da colmeia.
M:  E, de lá para cá, o mel adoçou impérios, do romano ao egípcio, e foi motivo de orgulho para os israelenses do Antigo Testamento. Também serviu de remédio para os chineses da era imperial.
G: Tá bem engraçadinha hoje, hein? E, hoje em dia, nossas queridas vovós receitam o doce alimento para quase tudo. Tem tosse? Mel! Dor na garganta? Mel! Se acidentou?
M: (risos). Acho que não é para tanto. Mas para saber até onde vão os benefícios do mel, conversamos com o cirurgião vascular e médico ortomolecular Dayan Siebra, que estuda o assunto. É hora do quadro Minha Vó Tá Certa?

(Transição de trilha sonora)

G: Fala, doutor. O mel é isso tudo mesmo de bom que nossa avó diz?

Dayan Siebra: O mel possui muitos nutrientes. São mais de 300 substâncias nutritivas. É a melhor mineralização do seu corpo que você pode fazer. Não é um açúcar comum. É uma substância rica em enzimas. É o principal medicamento da medicina ayurvédica. Tem glicose, tem proteínas antioxidantes, que ajudam a retardar o envelhecimento precoce, a prevenir doenças cardiovasculares e neurodegenerativas, como Parkinson, Alzheimer, câncer. É rico em vitaminas do complexo B, que são ótimas para pessoas estressadas e hiperativas. É rica em vitamina C, melhora a imunidade. Rico em minerais como zinco, ferro, manganês, enxofre. Então, é bom para quem quer melhorar a pele, o cabelo, a unha, anemia. É bom, inclusive, para diabético — só que tem de respeitar a dose de, no máximo, uma colher de chá por dia. É rico em potássio, cálcio, magnésio. Então, é muito bom para a osteoporose. Ajuda a fixar o cálcio nos ossos.

M:  Nossa, mas é muito benefício! E além do mel, a abelha produz o própolis, que também é muito utilizado pelos seres humanos. Quais os benefícios dessa substância?

Dayan Siebra: O própolis vai ser um regulador do pH da colmeia e, dessa mesma forma, também no nosso corpo. Então, desde a antiguidade, o própolis é utilizado para tratar úlcera, ferida… Você pode usar na forma de tintura, de sabonete, de bala, de xarope. É muito usado para evitar infecções nos seres humanos. Infecção de garganta, herpes. Como cicatrizante de feridas e queimaduras.

G: Bem legal. Então, eu vou ficar bem atento no que minha avó diz. Muito obrigado pela sua participação aqui no Choque!
M:  Um abraço!
G: Chegou a hora do…
M: Tá animado, hein?

(VINHETA: Trilha sonora acompanhada de locução: “Manja do assunto!”)

M:  A repórter Rayssa Motta falou com um convidado que está superinteressado no nosso episódio, por razões bem pessoais. 
G: Eu não sei você, Mariana, mas eu sou fã dele desde criança! 
M: Eu já fiz até aniversário com tema dele.
G: Rayssa, conta para o pessoal quem está aí com você.   

Rayssa Motta (repórter): Oi, Guilherme. Oi, Mariana. Oi, gente. Eu estou aqui com o Ursinho Pooh. Ele tirou um tempinho no Bosque dos Cem Acres para falar comigo. E parece que ele está bem preocupado com essa previsão de que o mel pode acabar. Pooh, a gente sabe que o mel já virou sua marca nos desenhos, mas eu queria saber o quanto realmente você gosta desse doce. Essa gula toda é só nas telas ou você é realmente um grande fã de mel?

Ursinho Pooh: Puxa vida! Essa pergunta é muito capciosa! Porque mel, para mim, de 0 a 100, é 150! 

Rayssa Motta: Então mel é sua comida favorita. Mas é só isso que você come? Conta para a gente como é a sua dieta.  

Ursinho Pooh: A minha dieta é composta de mel, às vezes também mel e, de vez em quando, também mel. Na verdade, na verdade, eu gosto muito de comer. Mas mel é minha comida preferida.   

Rayssa Motta: Nesse episódio do Choque da Uva, a gente está falando da possibilidade de extinção das abelhas. Se isso realmente acontecer, o mel pode acabar. Como você viveria sem ele?  

Ursinho Pooh: Puxa vida! Nem fale nisso! A extinção das abelhas seria terrível para todo mundo. Se o mel acabar, puxa vida! Eu não preciso nem dizer: a minha barriguinha iria roncar e roncar e roncar. E eu tenho a impressão, na verdade eu tenho certeza, de que eu não iria sobreviver sem o mel e nem sem as abelhas. Isso seria terrível. Puxa vida! Espero que isso nunca aconteça!  

Rayssa Motta: Valeu, Pooh! E muito obrigada ao Claudio Galvã, que dá voz a esse ursinho tão querido.

M:  Depois dessa participação superespecial, chegou a hora daquele momento de trocar uma ideia com o professor e saber como o tema das abelhas pode cair nas provas.

(VINHETA: Trilha sonora acompanhada de locução: “Ajuda aqui!”)

G: Conversamos com Marcelo Perrenoud, professor de Biologia do Anglo. Ele vai detalhar como o assunto pode ser cobrado nas avaliações   
M:  Perrenoud, o que os estudantes podem esperar do tema abelhas nos vestibulares e nas provas de modo geral?    

Marcelo Perrenoud: As abelhas são artrópodes, pertencem ao reino animal, mais precisamente à classe dos insetos. Têm o corpo dividido em cabeça, tórax e abdômen; com três pares de pernas e um par de asas. A espécie mais estudada e mais recorrente nos vestibulares é a Apis mellifera, uma abelha de origem europeia e produtora de mel e propólis. Portanto, tem uma importância econômica bem grande para muitas pessoas. Vale ressaltar que existem diversas outras espécies de abelhas que não possuem ferrão. Então, aquela caracterização de abelhas com peçonha pode não ser verdadeira para todas as espécies. Nos vestibulares, uma das grandes cobranças é o papel ecológico das abelhas nos ecossistemas. As abelhas desempenham um papel durante o processo de polinização das flores, das angiospermas, que são as plantas com maior diversidade em número de espécies. As abelhas levam os grãos de pólen de uma flor até a outra, objetivando a sua alimentação, que é à base de néctar. Isso é muito importante para diversas espécies de plantas que conseguem a polinização apenas com a participação das abelhas. Uma diminuição das abelhas pode provocar também a extinção de várias outras espécies correlacionadas, como várias outras espécies vegetais que dependem da vida das abelhas, do trabalho das abelhas, para que haja o processo de polinização. Realmente, o desmatamento, a formação de grandes monoculturas e o uso de agrotóxicos são temas recorrentes nos grandes vestibulares, e isso afeta diretamente a vida das abelhas. Inclusive, na prova da Unicamp, houve uma questão sobre agrotóxicos e a participação dos polinizadores nesse processo. Realmente, o uso de agrotóxicos está levando a uma queda acentuada na quantidade de abelhas e de outros polinizadores.

G: Obrigado, professor! Até a próxima!

(VINHETA: Trilha sonora acompanhada de locução: “Com vocês, Prêmio IgNobel!” Em seguida, trecho da música “Quando o Mel é Bom”, de Simone e Simaria)
Quando o mel é bom
A abelha sempre volta

M: Chegou um dos momentos mais esperados do programa. Qual é a premiação IgNobel desta vez, Guilherme?
G: Este é o grande Justin Schmidt, que criou meticulosamente o “Índice Schmidt de Dor em Ferroadas”
M:  (Risos) O que é isso?
G: Esse Índice Schmidt classifica a dor relativa que as pessoas sentem quando são picadas por várias espécies de insetos. E o prêmio também foi dado ao Michael L. Smith. Ele organizou cuidadosamente as abelhas para picá-lo repetidamente em 25 locais diferentes do seu corpo. A intenção era saber quais locais são os menos e os mais dolorosos. Se você ficou curioso, mas não quer fazer o teste em casa, os menos dolorosos são o crânio, a extremidade do dedo médio e a parte superior do braço. Já os piores lugares para levar uma ferroada são a narina, o lábio superior e o pênis.
M: O Índice Schmidt!

Eu fiquei sem resposta
Mas quando o mel é bom a abelha sempre volta
(Trilha sonora de encerramento do podcast Choque da Uva)

M:  A gente vai ficando por aqui. Este foi o Choque da Uva, o novo podcast de ciência que explica tudo o que você está a fim de saber. Eu sou Mariana Hallal.
G: E eu sou Guilherme Bianchini.
M:  Este episódio teve áudios de TV Brasil e TV Globo. O roteiro é de Brenda Zacharias e Sandy Oliveira. 
G: A  edição é de Ítalo Lo Re.  A produção, de Rayssa Motta, André Marinho e Adriano Cirino.
M:  Você também pode seguir a gente nas redes sociais. Nós somos o @choquedauvapod no Twitter, no Instagram, no Facebook e no YouTube. 
G: A gente espera você no próximo episódio. Até lá!
M: Tchau, tchau!

(Encerramento da trilha sonora)