O uso de Inteligência Artificial (IA) no processo de criação musical gera uma série de possibilidades e ao mesmo tempo questionamentos sobre a forma de fazer fazer música e o papel do artista nessa nova etapa. O Estadão QR conversou com Drew Silverstein, CEO e cofundador da Amper Music, startup que atende empresas ao redor do globo criando músicas únicas e customizadas utilizando uma IA.
Ele explica que o algoritmo pode ser visto como uma ferramenta ou um colaborador do artista, dependendo de como for usado e de quem é o usuário final. Testamos a ferramenta da Amper Music. E o que podemos dizer sobre o experimento é que conseguimos, em poucos segundos (e sem nenhum conhecimento musical), criar algo que se parece bastante com uma batida de hip-hop.
Confira, abaixo, os principais trechos da entrevista com Silverstein:
O futuro da música passa pelo uso da Inteligência Artificial?
A Inteligência Artificial vai se tornar muito em breve uma tecnologia padrão para criação de músicas. Nós esperamos que a Amper esteja envolvida na fundação da infraestrutura da música, colaborando e fornecendo tecnologia a qualquer um, sejam músicos e artistas ou qualquer indivíduo não músico que deseje criar música. A tecnologia musical evolui constantemente da caneta e papel à fita, ao digital, ao mobile. A Inteligência Artificial é o próximo degrau nessa evolução. Estamos animados para trilhar este caminho.
Você é um compositor. A IA não estaria acabando com os empregos dos seus colegas de formação?
De forma alguma. Existem dois tipos de música de mídia: música artística e música funcional. A música artística é aquela que é valorizada pela colaboração e pela criatividade envolvida em sua criação, enquanto a música funcional tem seu valor pela sua aplicabilidade. Em relação à música funcional, o que acreditamos é que estamos proporcionando a milhões de criadores ao redor do mundo a possibilidade de transformar suas ideias diretamente em música. A música artística é o espaço em que o trabalho de artistas e músicos é realmente valorizado. A nossa tecnologia não vai nunca substituir a música artística porque fazer música com pessoas é parte importante do que nos torna humanos.Mas nós esperamos, sim, apoiar e empoderar esses artistas na criação de suas músicas.
Como o software da Amper funciona?
Criamos um conjunto de dados que descreve música em gêneros, emoções e estilos. A partir daí, permitimos que alguém peça por alguma coisa que esses dados descrevem e comece a compor uma música, nota por nota, do zero. Uma vez que a música é composta, temos de transformá-la em áudio. Então, usamos nossa enorme biblioteca de samples proprietários para reunir dezenas de milhares de arquivos de áudio únicos e individualizados em uma performance que soa como se tivesse saído de um estúdio. Isso tudo ocorre em questão de segundos, sem exigir nenhuma experiência anterior dos usuários.
A Amper tem o direito autoral das músicas geradas?
As músicas não estão livres de direito autoral. O que ocorre é que são livres de royalties. Os usuários nos pagam pelo acesso à plataforma e, com isso, têm a possibilidade de criar uma quantidade infinita de músicas para baixaram e utilizarem em uma licença global, perpétua e livre de royalties.
Em 2018, a youtuber Taryn Southern lançou um álbum utilizando a plataforma da Amper. Como foi esta colaboração?
Foi emocionante. Taryn teve acesso à nossa tecnologia e ela teve a ideia de criar o primeiro álbum colaborativo com uma IA. A Amper teve muito pouco a ver com o processo além de fornecer acesso à tecnologia e ao produto. E ela fez um álbum fantástico. Além disso, dialoga bastante com o nosso objetivo de capacitar e empoderar qualquer pessoa no mundo a expressar sua criatividade produzindo música independentemente da sua experiência, recursos ou expertise – e a Taryn é um ótimo exemplo disso.