Oi, Mari,
Na semana em que a defesa incondicional dos Direitos Humanos é a data mais emblemática para nós e que estamos nesse corre de resistência à violações desde sempre, temos mais um marco da tua ausência. Não é possível falar de luta e defesa da vida sem lembrar de você. Nossas últimas palavras foram tecladas porque você estava lá na frente, linda e abusada, feliz e radiante na tua roupa toda trabalhada no azul, minha cor preferida.
Ali estava você, nos provocando a falar para estimular as outras e eu observando o quanto olhavam pra você com uma enorme admiração. Ao final, lá estava você, como sempre assediadíssima, as meninas todas queriam fotos com você! Que coisa, parecia que sabiam como seria importante esse tantinho de proximidade contigo eternizada em uma foto.
Ainda no meio do turbilhão, fizeram esse desafio de escrever pra você, de fato eu não sei o que escrever. É muito difícil. Quero escolher as palavras mas elas se escondem de mim, quero traduzir o que vem sendo esses nove meses de tristezas, lutas, incertezas e muita falta da tua risada, de você, de olhar e ver uma mulher plena, radiante, apropriada de si e de sua vida. Das nossas conversas sobre nossas filhas, dos desafios que estavam para serem enfrentados e vencidos “na tranquilidade”, até porque logo logo 2018 acabaria e as férias tão sonhadas de janeiro logo chegariam.
Enfim, certamente você jamais deveria ter imaginado o que este 2018 nos reservaria e, o pior, que você não passaria por ele ou ainda, que não teríamos você pra nos animar e nos conduzir. Você, Mari, nossa amiga, nossa chefe, nossa líder política e a promessa, que já vislumbrávamos, de ser uma das maiores políticas que este País já teve.
Mas era certo que o Brasil pra você era pouco, você era maior, e agora você é do mundo. Você alcançou o mundo e é símbolo de justiça e liberdade, de amor e respeito à vida. Mais do que isso, você agora é ancestral.
Ainda é estranho te ver em todo lugar, mas era assim né, Mari, você queria estar em todos os lugares ao mesmo tempo, com sua urgência e fôlego invejáveis, com sua disposição para a vida. Daqui seguimos, amiga, tentando seguir teus passos e das que vieram antes de nós. Das que gemeram, choraram e deram, como você, a vida pelo outro. Você cumpriu tua missão, negona, com valentia, com honra, com teu queixo pro alto e com a coluna ereta.
De verdade, você está presente! Hoje e sempre!
Mônica
Nota da redação: A carta acima foi escrita em dezembro, a pedido do Estado