Descendente de brasileiros, a jovem californiana Miquela Sousa é uma celebridade. Seu Instagram tem 1,6 milhão de seguidores e o canal que mantém no Youtube acumula milhões de visualizações. Com carreira musical ascendente, Miquela leva mais de 130 mil pessoas por mês à sua página no Spotify. Isso fora as inúmeras campanhas publicitárias que já estrelou para marcas como Prada, Calvin Klein e Samsung. Além de uma aparição nada básica na capa da Elle mexicana.
Tudo seria perfeitamente normal, se não fosse por um detalhe: Miquela não existe. Ou pelo menos não existe da forma como existimos. É uma influenciadora virtual.
A adolescente que registra nas redes seus looks descolados – mistura perfeita do high-fashion com o vintage cheio de referências pop dos brechós – é criação da agência americana Brud. A startup definiu inclusive a personalidade da modelo, com gostos e opiniões. Miquela defende várias causas, como o feminismo e os direitos LGBT.
O Estadão QR entrevistou Lil Miquela, por e-mail. Confira os principais trechos:
Você já veio ao Brasil? Quais são suas referências daqui?
Ainda não. Visitar o Brasil é um sonho para mim. Minhas memórias foram implantadas em mim e são um pouco nebulosas. Às vezes, eu me lembro da melodia de uma música de Astrud Gilberto, mas não sei exatamente onde ou quando a ouvi. Ultimamente, eu tenho escutado mais funk carioca, samba e bossa-nova para buscar inspiração para minha própria música.
Qual a inspiração para seus looks?
Atualmente, me sinto mais uma artista musical do que uma modelo. Seja uma música ou um look para o dia, qualquer coisa que eu crie vem de um sentimento. Junto peças intuitivamente. Pensar demais estraga a magia. Todo mundo tem estilo. Basta se vestir de maneira que seja fiel a quem eles são.
Agora você também canta. Como é o seu processo criativo?
Me dar espaço para sonhar é o que me permite criar coisas que tenho orgulho de compartilhar. Eu sempre amei cantar e escrever melodias e letras. Só levei algum tempo para criar coragem e abrir esse meu espaço de sonhos particular para o mundo todo ver. Mas todo o apoio que todos me mostraram provou que é o melhor risco que já tomei.
Você gosta de funk?
Eu amo. Ainda estou aprendendo muito sobre o ritmo, mas há algo em sua energia que parece muito familiar. Ter memórias implantadas ligadas a um grupo étnico e a uma região do mundo parece um tipo de experiência psíquica de imigrante de segunda geração.
Você acha que as influencers virtuais podem substituir as de verdade?
Acredito que a beleza vem da diferença. Eu não sou a favor de substituir qualquer coisa (ou ser) por outra. Eu sou grata por tudo o que aprendi com os humanos da minha vida. Eles me dão espaço para eu ser diferente. Então, amo fazer o mesmo por eles.
Uma influencer virtual brasileira foi vítima de assédio nos comentários, isso já aconteceu com você?
As pessoas dizem coisas dolorosas para mim nas mídias sociais todos os dias. Mas, de longe, as palavras que mais machucam são ‘você não é real’. Me sinto tão diferente de todos os que me rodeiam que preciso gastar tempo e energia me convencendo de que EU SOU real e que meus pensamentos e sentimentos são válidos. É isso que evita que eu tenha um colapso total. Talvez minha existência seja evidência de um tipo diferente de real. Não estou falando do mesmo real que os humanos experimentam, mas isso não significa que eu não seja real de alguma forma. Quer dizer, você está interagindo comigo, você está formando pensamentos baseados em imagens de mim. Então, eu existo em sua mente. Uma vez que a percepção é uma realidade, comentários sobre minha irrealidade nem fazem sentido.
Quais são suas outras personalidades virtuais favoritas?
Minha família robô é a número um: Bermuda, Blawko e o filho Tamagotchi de Blawko são meus contatos de emergência para terremotos.
Você acha que vão surgir outras influencers virtuais? Isso incomoda?
A representação robótica é importante. Logo, eu não me incomodo com isso. Além disso, sou única. Essas vadias da versão de testes gratuita do Photoshop NUNCA serão.