Hannah Cliton/Estadão Montagem com três fotos dos produtos das lojas
Belas composições de fotos e até memes ajudam a chamar a atenção: investir em um nicho de produtos funciona melhor

Como ter uma loja no Instagram (ou a arte da ‘brusinha’ irresistível)

Na rede em que a imagem é tudo, caprichar no visual do feed e do stories se torna estratégia número 1 das empresas

O apelo estético do Instagram atrai, além dos usuários, empreendedores que conversam com clientes por mensagens diretas e realizam suas vendas até sem precisar sair do aplicativo. A plataforma já passa de 1 bilhão de contas no mundo – 80% delas seguem ao menos uma empresa na rede social. Ao todo, são 200 milhões de perfis comerciais. Fácil de usar, a ferramenta atrai de pequenas a grandes empresas. Para se destacar em um ambiente de concorrência acirrada, o segredo é investir em segmentação de produtos e boas fotos.

Aline Zotti, de 26 anos, aposta em imagens bem produzidas para mostrar os cintos, as camisetas e os acessórios que vende no site da loja, com preços entre R$ 29 e R$ 229. “Eu trabalho 100% em cima das fotos dos meus produtos porque eu quero que o cliente deseje aquela peça e a veja de uma forma que mude totalmente o jeito que ele pensa.” Para ela, investir em fotos bonitas é uma forma de chamar a atenção dos clientes e se diferenciar de outras lojas que vendem o mesmo produto.

A marca de Aline começou com algumas peças de roupas que restaram de uma antiga sociedade, um perfil no Instagram (@bahzshop, criado em 2015) e uma dona determinada a fazer dar certo. “Eu sabia que queria ganhar dinheiro com internet de alguma forma, de preferência no Instagram”, conta. Com o sucesso das vendas, logo no segundo mês ela montou um site para tentar alcançar um público maior. Para isso, Aline pesquisou que peças de roupa estavam em alta entre as influenciadoras do Instagram e procurou produtos específicos para esse público.

Instagram @bahzshop/Reprodução
A estética das imagens é um dos principais atrativos da loja @bahzshop, criada em 2015.

Atualmente, Aline não vende mais pela rede social, mas afirma que 90% das vendas são feitas porque os clientes veem as peças no perfil e entram no site para comprar. “Se eu não tivesse Instagram eu não sei como seria para vender”, afirma ela, que em julho lançou sua primeira coleção autoral, com valores entre R$ 69 e R$ 159.

A característica visual do Instagram também foi o que levou a artesã Ana Carolina do Vale, de 24 anos, a vender pela rede social os cosméticos que produzia para si mesma. Incentivada por um grupo de amigas, ela criou a Caió Cosméticos Naturais no início de 2016 e começou a usar memes para divulgar seus produtos no perfil @caiocosmeticosnaturais, com preços entre R$ 10 e R$ 45. “Eu acho que as pessoas têm dificuldade em ler textos muito longos na internet, então eu comecei a usar memes pensando em comunicar coisas importantes de uma forma rápida”, conta. Entre os posts mais recentes no perfil da marca, Ana Carolina adapta desde o meme “é verdade esse bilhete” até brincadeiras com a “piada do pavê” no Natal.

Instagram @caiocosmeticosnaturais/Reprodução
Ana Carolina fazia cosméticos para si mesma e passou a vender pelo Instagram após a sugestão de amigas.

De acordo com o professor do curso de Mídias Sociais da ESPM Edney Souza, usar a linguagem do público alvo, como no caso dos memes, é uma forma de se aproximar do consumidor, da mesma forma que produzir imagens que chamam a atenção enquanto o cliente passa pelo feed. “A pessoa consegue entender e imaginar melhor o produto. Vídeo também é uma coisa que funciona absurdamente bem, porque você consegue ver o produto em ação.”

A simplicidade do uso das redes sociais, para Edney, é algo que atrai tanto o público que vende quanto o público que compra os produtos. Por mais que algumas pessoas fiquem inseguras em comprar pela internet, as próprias plataformas já têm mecanismos para verificar a autenticidade dos vendedores. “O usuário já está no Instagram, ele vê um anúncio, clica para comprar e não precisa sair de dentro do aplicativo para concluir a compra. Acaba sendo muito mais simples e a loja ganha na questão de conversão”, explica.

Marca especializada em um nicho

Por outro lado, a competição pela atenção das pessoas no ambiente online é bastante acirrada. Segundo Edney, a loja online tem mais valor para o usuário se for especializada em alguns produtos do que se oferecer uma grande variedade de itens. Por isso, entender melhor o usuário e criar conteúdo segmentado é tão importante. “Na timeline, qualquer pessoa que produz conteúdo está competindo com você pela atenção do consumidor”, explica o professor.

A jornalista de moda Giuliana Mesquita, de 27, vende camisetas com bordados personalizados há dois anos pelo perfil @giucouture e acredita que esse é o modelo de negócios que mais combina com a sua marca. “Por mais que pareça amador fazer pelo Instagram, eu acho que é só um preconceito do mercado, porque a minha marca não entra no modelo pré-definido.”

Dessa forma, as redes sociais são uma maneira de criar múltiplos canais para chegar até o consumidor, o que possibilita o diálogo e diminui o gasto com publicidade. Os empreendedores têm a opção de fazer os posts gratuitos ou de investir em patrocinados no feed e no stories — segundo o Instagram, custam a partir de R$ 1. Para Giuliana, a criação do Instagram da marca possibilitou que a loja Bulletin, de Nova York, entrasse em contato com ela para revender seus produtos fisicamente nos Estados Unidos.

Quanto cobrar pelos produtos

No início, Giuliana conta que cobrava o mesmo valor para todas as camisetas, mas, quando os bordados começaram a ocupar mais tempo na sua rotina, ela decidiu cobrar mais e atualmente calcula o valor final de acordo com o número de palavras a serem bordadas e o tempo que leva para produzir as estampas. Giuliana, que além de trabalhar com a marca é jornalista freelancer, diz que aprendeu a calcular o valor da sua hora de trabalho e não teve dificuldades ao definir o preço das camisetas, que custam a partir de R$ 80.

Instagram @giucouture/Reprodução
Para Giuliana Mesquita, o modelo de vendas pelo Instagram é o que funciona melhor para a sua marca.

Já Aline, que havia trabalhado em lojas de roupas, conta que no início tinha medo de ter prejuízo, por isso sempre buscou ser organizada nas finanças da marca e estipular um preço que valorize seu próprio trabalho. “Tento manter essa linha tênue entre o meu benefício e o benefício do meu cliente.” Ana Carolina, por outro lado, conta com o apoio das consumidoras para garantir um preço justo pelo seu trabalho, já que todos os cosméticos são artesanais. Ela explica que se preocupa em contratar fornecedores de acordo com os princípios naturais e veganos de seus produtos, por isso também procura estabelecer um preço justo pelo seu próprio trabalho.

Facebook ou Instagram?

Para quem está pensando em começar a vender algum produto e tem dúvida sobre a rede social a escolher, a recomendação é pensar em que plataforma está o seu público. Para Edney, o Facebook já não é mais a prioridade ao criar um perfil de marca, mas em alguns casos ainda funciona. “Uma vantagem do Facebook é que você pode gerenciar tudo pelo seu celular”, afirma. Ele destaca que, dependendo do público, o resultado pode ser melhor se os canais forem WhatsApp e Facebook, por exemplo, do que Instagram. Porém, o ideal é estar presente em todas as redes sociais que tenham relação com o produto e, principalmente, com o público.

Como montar uma loja no Instagram

 

1 – Crie uma conta comercial
O Instagram para Negócios possibilita o acesso a uma série de ferramentas que ajudam a entender melhor o seu público. Assim, é possível acompanhar os resultados das postagens e adaptar as estratégias para aumentar os seguidores.

2 – Edite seu perfil com informações importantes
Por mais que os clientes possam tirar dúvidas pelas mensagens diretas, é importante escrever uma bio com uma breve explicação sobre a marca e as principais formas de contato, como site, e-mail, telefone e endereço físico, se houver.

3 – Faça fotos e vídeos dos produtos
As imagens são o principal atrativo do Instagram, por isso é importante criar um feed que chame a atenção de novos usuários. Os stories também devem utilizados para estimular o engajamento, como enquetes, vídeos e links para as postagens do perfil.

4 – Use hashtags e legendas interativas
As hashtags são uma forma de atingir novos usuários que estejam procurando pelo seu produto. Estimular a interação nos comentários também mostra para o algoritmo que o seu perfil é relevante para os usuários, o que também ajuda a atingir novos consumidores.

5 – Converse com seus seguidores
É muito importante manter contato direto com os seus clientes. Aproveite que as redes sociais criam uma sensação de proximidade entre os usuários para interagir e se conectar com o público.

6 – Procure saber o melhor horário para publicar
Não precisa publicar posts de hora em hora, mas é importante criar conteúdo relevante e fazer postagens com uma certa frequência para manter o engajamento. Para isso, use os dados disponibilizados pela própria plataforma sobre o seu perfil e aproveite para publicar os posts nos horários em que os seus seguidores estão online.

7 – Invista em posts patrocinados no feed e no stories
O Instagram oferece a opção de patrocinar qualquer post, no feed e no stories, por valores a partir de R$ 1, dependendo dos objetivos e da estratégia da marca. Os anúncios podem ser feitos diretamente pelo aplicativo, que direciona o usuário para o site de compra.