Os Jogos de Tóquio, em 2020, terão a maior participação feminina da história. Se o planejamento do Comitê Olímpico Internacional (COI) for confirmado, as mulheres serão 48,8% dos atletas no Japão. O recorde, porém, não se traduz apenas em quantidade. Na delegação brasileira, as mulheres estão entre as esperanças de medalha em modalidades tradicionais e em provas que estreiam no programa olímpico.
Perguntamos às 33 confederações de modalidades olímpicas do Brasil quem são as apostas para representar o País nos próximos anos. As respostas mesclaram nomes consagrados, que estarão em Tóquio, e jovens promessas que só devem estrear nos Jogos de Paris, em 2024. Para as confederações que não responderam ao questionamento, realizamos um levantamento considerando resultados em competições nacionais e internacionais, além dos rankings das modalidades em questão.
Uma dessas promessas é a boxeadora Beatriz Ferreira. Bicampeã brasileira e continental na categoria peso leve (até 60 quilos), ela é apontada como principal promessa brasileira na modalidade mais desigual em relação a gênero, com 206 homens e apenas 80 mulheres. No Brasil, o esporte também é tradicionalmente dominado por homens: das cinco medalhas conquistadas pelo País no boxe, quatro vieram no masculino.
Aos 25 anos, Beatriz vem do melhor ano na sua carreira: renovou os títulos nacional e continental, e conquistou o torneio internacional de Balkan, realizado na Bulgária, além de ter participado do Mundial em novembro deste ano. Agora, a boxeadora quer começar 2019 com o pé direito e garantir classificação para Tóquio-2020. “No ano que vem, a gente vai voltar com força total, tem classificatório para Tóquio, tem Mundial de novo, tem Pan-Americano, enfim, vamos com tudo”, garante Beatriz. “Acho que neste ano a gente treinou e fez muitas viagens, mas no ano que vem será o dobro disso.”
O boxe é o principal caso de disparidade, mas não o único. Sem contar com o nado sincronizado e a ginástica rítmica, disputados apenas por mulheres, e a luta greco-romana, só com homens, as maiores desproporções entre gêneros ocorrem no atletismo (76 homens a mais), no futebol (72) e no ciclismo (63). Ao todo, dez modalidades apresentam diferença entre o número de atletas no masculino e no feminino.
O processo para se chegar a uma condição de mais igualdade de gênero nas competições exigiu um esforço político por parte do COI. Quinze modalidades sofreram modificação na composição, com remanejamento de vagas entre masculino e feminino para reduzir a distância entre o número de atletas.
Novas modalidades
A mudança já pode ser observada nos esportes incluídos no programa olímpico de Tóquio-2020. Das seis novas modalidades, apenas beisebol e softbol mantêm disparidade de gênero. Enquanto 144 homens participarão dos jogos de beisebol, 96 mulheres estarão no softbol. Caratê, basquete 3×3, escalada, skate e surfe entram com a mesma quantidade de vagas por gênero.
E é justo nas novas modalidades que o Brasil deposita esperanças para aumentar o número de medalhas. No surfe, Tatiana Weston-Webb (4ª no ranking da WSL) e Silvana Lima (13ª) despontam com chances. No caratê, a tricampeã panamericana Valéria Kumizaki, 6ª no ranking mundial em sua categoria, é uma das principais apostas de pódio. “Sendo olímpico, o esporte é visto com outros olhos no meio. É uma meta para todo atleta estar em uma Olimpíada representando o país, o maior feito para nós é ter uma medalha olímpica”, conta Valéria.
Já no skate street, a multicampeã Letícia Bufoni é promessa real de conquista. Tendo como base os Estados Unidos, Letícia é um nome de destaque nos X-Games, no qual conquistou quatro medalhas de ouro, duas de prata e duas de bronze. “Já estou 100% focada na rotina de treinamentos e de olho na classificação para Tóquio. Ainda não temos muita informação de quais serão o processo e os critérios de classificação, mas parece que a janela de classificação começa a partir de junho de 2019”, explicou a atleta.
Vaga garantida
O futebol foi o primeiro esporte coletivo a assegurar a presença da seleção feminina nos jogos de Tóquio. Com o hexacampeonato da Copa América, em abril deste ano, o Brasil garantiu a vaga, já que o torneio serve como seletiva olímpica. Um dos destaques da modalidade, a atacante Gabi Nunes, que atua no Corinthians, quer carregar o legado da equipe que conquistou a medalha de prata em Atenas 2004 e Pequim 2008. “Na última Olimpíada, o Brasil bateu na trave (ficou em quarto lugar). Então, agora queremos voltar ao pódio”, diz Gabi.
A jogadora é uma das promessas para os próximos ciclos olímpicos. Em 2016, foi destaque na Copa do Mundo Sub-20. Apesar da queda brasileira nas quartas de final, ela garantiu a chuteira de prata do campeonato ao atingir a marca de cinco gols nas quatro partidas disputadas pela seleção. No mesmo ano, foi convocada para o time profissional, mas em 2017 sofreu uma ruptura do ligamento do joelho esquerdo durante o Torneio das Nações, disputado nos Estados Unidos. “Foi um período difícil, passei por duas cirurgias. Foi mais de um ano perdido por conta da lesão.”
Além do futebol, a vela já assegurou a presença de cinco atletas nas próximas Olimpíadas. Na classe 49er, as atuais campeãs olímpicas Martine Grael e Kahena Kunze conquistaram vaga para o Brasil em agosto, durante o Mundial da modalidade, disputado na Dinamarca. João Pedro Oliveira também classificou o País na classe Laser e Samuel Albercht e Gabriela Sá, na classe Nacra 17.
Cabe ressaltar que, na vela, a vaga olímpica é destinada ao país e não diretamente ao atleta que conseguiu o resultado na seletiva. A Confederação Brasileira (CBVela) ainda deve estabelecer critério para definir o nome dos atletas que vão representar as cores verde e amarelo em Tóquio 2020.