Basta abrir seu feed para você topar com #gratidão e o emoji com as duas mãos juntas em sinal de agradecimento. Gisele Bündchen, Gabriel Medina e Luana Piovani puxam a fila entre os famosos que mais usam a hashtag no Instagram. Febre nas redes sociais, a gratidão também acompanha belas paisagens, frases motivacionais e até histórias singelas. No Google, a palavra está em alta nas pesquisas há três anos. Ok, nem tudo o que se vê na internet é verdade. Mas se a gratidão for mais do que um post bonito para ganhar curtidas, ela faz bem à saúde. Anote aí: na #vidareal.
“Ter gratidão é uma estratégia de redução de estresse para a saúde mental”, explica a psicóloga comportamental Denise Diniz, da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). Denise conta que a relação entre se sentir grato e a felicidade se explica por um mecanismo de recompensa do cérebro, que eleva o nível do neurotransmissor dopamina. “Isso acontece quando o cérebro identifica que algo de bom aconteceu, que nós fomos bem-sucedidos e que existem coisas na nossa vida que merecem reconhecimento”, diz Denise, que coordena o Setor de Gerenciamento de Estresse e Qualidade de Vida da universidade. “Na medida em que ocorre a liberação da dopamina, aumenta a sensação de prazer.”
Demonstração de satisfação com a vida, otimismo e vitalidade são alguns dos comportamentos positivos causados pela liberação de dopamina. Por isso, segundo a psicóloga da Unifesp, é comum que as pessoas tenham mais tendência de externar o que estão sentindo. “A gente observa pelo olhar clínico que elas são mais extrovertidas e se sentem menos solitárias e isoladas”, conta. “Com isso, você permite espaços em que se criam mais e melhores relacionamentos.”
Gratidão pela vida
Além de aspectos comportamentais, Marina Regina Domingues de Azevedo, professora de Psicologia da Faculdade de Medicina do ABC (FMABC), afirma que o bem-estar e um otimismo verdadeiro ajudam na prevenção e no tratamento de doenças. “As pessoas que encaram a vida de forma positiva, em todos os tratamentos, até os mais agressivos como as quimioterapias, seguramente vão ter resultados melhores”, acredita. “Não que essa doença vá se curar, mas a qualidade da sobrevida dessas pessoas é muito maior.”
Mas ela faz questão de ressaltar que a palavra tem de ser usada com parcimônia no dia a dia. “Gratidão é uma coisa muito mais forte porque tem a ver com a ideia de uma palavra que você usava até em contexto religioso, em algumas circunstâncias.”
O interesse pela gratidão se reflete também na alta procura pelo termo na internet. A partir de 2015, as buscas por essa palavra cresceram, como aponta o Google Trends, e apresentam tendência de alta desde então. Os picos ocorreram em dezembro, mês das festas de fim de ano. A plataforma ainda mostra que pesquisas relacionadas à gratidão incluíram frases, mensagens, músicas ou versículos bíblicos que demonstram bons sentimentos, comportamento muito comum também em redes sociais.
Dê uma curtida para você mesmo
Apesar dessa popularidade da hashtag, a fundadora da Rede Indigo e especialista em desenvolvimento humano, Camila Pires, alerta que muitos dos usuários usam a expressão só da boca para fora para ganhar likes. “As curtidas das redes sociais alimentam sentimentos positivos motivados pela recompensa imediata, mas é preciso ter cuidado para que a autoestima e a gratidão não estejam condicionadas a validações externas”, alerta.
Camila afirma que enxergar situações com foco nos aspectos positivos é um comportamento que pode ser atingido com treino. Essa possibilidade existe graças a uma habilidade do cérebro chamada de neuroplasticidade, que permite a busca de aprendizado mesmo quando o resultado não é o que se imaginava. “É como se a pessoa precisasse trocar de lentes. Se você usa um óculos enxergando só aquilo que não está bem na sua vida, vai ser condicionado a enxergar só o que é negativo”, diz Camila. “Mas antes de usar a hashtag, tem dar uma curtida para você mesmo.”
Essa observação também é feita por Odilon Monteiro Bonfim, professor de ioga há seis anos. “No dia a dia, a expressão gratidão está se barateando. As pessoas usam a palavra e acham que só isso vai fazer surtir o efeito”, diz Odilon. “Na verdade, elas precisam deixar de ter tantas cobranças consigo mesmas porque isso não leva ninguém a ter gratidão. É uma questão que tem de ser trabalhada.”