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Editora Tibi/Divulgação Emília Nuñez
Emília Nuñez se rendeu ao lúdico e deu vida à ‘Menina da Cabeça Quadrada’, entre outras histórias

Mães em produção independente, só que de editoras

Ambiente digital ajuda a encurtar caminho para publicar um livro, facilitando da captação de recursos para a impressão à venda final

Combinar maternidade com o desejo de publicar um livro exige uma boa dose de
malabarismo. E olha que escrever sempre foi apenas o primeiro desafio. Afinal, em uma rotina
que inclui trabalho e filhos, como arrumar tempo para fazer a costumeira peregrinação em
busca de uma editora? Mas várias mães agora têm conseguido sair desse dilema com ajuda da
internet, que facilita da captação de recursos para impressão à venda das obras e permite que
elas realizem seu sonho por meio de uma produção independente.

Nardele Gomes é jornalista e sempre quis escrever um livro. Só que entre o desejo e a
concretização, existia a lacuna provocada pela correria do dia a dia. Mas eis que surge Maria
Cecília, sua primeira e única filha, como faz questão de frisar, para mudar o rumo da história.
Entre fraldas, cochilos e mamadas da bebê, Nardele recheava o bloco de notas do seu celular
com sentimentos até então desconhecidos. A primeira obra da jornalista, Vou Te Contar Como
Foi Para Mim, é um exemplo de um novo caminho que a internet abre: o escritor
independente pode ter acesso direto ao leitor para vender o livro antes mesmo de ele estar
impresso.

“Quando eu fui olhar como era para publicar em uma editora grande, achei que seria tão
complicado e difícil que quis tentar por crowdfunding”, conta Nardele. “Contei com ajuda de
um amigo que presta consultoria na área. Ele já tinha feito oito projetos antes, todos bem-
sucedidos.”

Para encantar o leitor em potencial, Nardele utilizou um vídeo dela e da filha, ambas
protagonistas da narrativa, para contextualizar a história do livro em uma plataforma de
financiamento colaborativo, a Benfeitoria. Com isso, cumpriu a meta de três meses estipulada
para que o projeto se concretizasse – os custos já estavam calculados e entraram como meta
na campanha. A arrecadação ultrapassou os R$ 15 mil solicitados inicialmente, chegando a R$
21 mil.

ReproduçãoA autora de livros Nardele e a filha, Maria Cecília
Nardele e a filha, Maria Cecília: vídeo ajudou na campanha de arrecadação

“Ao contrário do que muita gente pensa, não é uma vaquinha, não é uma doação. É uma
compra antecipada. Um produto que está pronto, mas não havia sido impresso”, explica
Nardele. “O autor independente não tem facilidade para vender livros. Pela internet, é mais
tranquilo do que pôr em uma livraria.” Nardele conta que vai enviar pelo correio vários
exemplares. Já os de Salvador, onde mora, serão entregues por ela.

O livro, segundo a escritora, tem o objetivo de tornar a experiência da maternidade menos
solitária. A obra demorou dois anos e meio para ficar pronta. “O círculo ao redor da mãe
recente é muito cruel. As pessoas opinam demais sem acolher. Julgam muito mais”, afirma.
Nardele acrescenta que gostaria de ter lido algo assim quando estava grávida. “Eu queria fazer
entenderem o que as mães sentem, para que o ambiente seja mais acolhedor.”

Do jurídico ao lúdico

Diferentemente de Nardele, Emília Nuñez não sonhava em ser escritora quando criança. Essa
vocação surgiu depois que o irmão manifestou o desejo de empreender e os dois decidiram
montar juntos uma editora de livros personalizados. Nas obras, as crianças virariam
personagens das próprias histórias, escolhendo a cor do cabelo, a roupa e o nome, por
exemplo. Isso em 2015, quando projetos do segmento nem eram tão conhecidos ou
populares.

A pessoa que escreveria as narrativas infantis, no entanto, acabou desistindo de participar do
projeto quando a ideia já estava em produção. Foi Emília, então, que assumiu a função. Na
época, sua experiência se resumia ao que ela havia escrito sobre a área jurídica quando era
estudante de Direito. Mesmo assim, se rendeu ao lúdico e para dar vida à Menina da Cabeça
Quadrada
, em outubro de 2016. A primeira obra de Emília foi eleita em 2017 como uma das 20
melhores pelo Leiturinha, clube de assinatura de livros infantis.

“Já vendi 15 mil cópias. Para uma produção independente, é um número bem bom. É um livro
que tem me aberto portas, com uma aceitação muito boa”, diz a autora. “Caiu no gosto das
escolas e das famílias”. Ela hoje tem cinco livros, além dos personalizáveis pela Editora Tibi, da
qual é sócia com o irmão.

Emília conta que decidiu empreender porque costumava ouvir relatos da burocracia que
envolve o mercado editorial. “Nunca cheguei a procurar uma editora, sempre fiz meus livros
com a autonomia que trabalhar de forma independente dá”, conta. “Em contrapartida, vivo o
desafio de encontrar o meu mercado, de distribuir os livros. E isso é um investimento pessoal
muito grande.” Além de trabalhar nas publicações, Emília desenvolve projetos em parceria
com 30 escolas, onde dá oficinas, conversa com as crianças sobre livros e faz palestras para os
pais sobre a importância da leitura na infância.

O próximo livro de Emília é dedicado às famílias. Em especial, às mães. “Faz uma ponte com a
leitura na infância. Tem dicas de como ler e de como incentivar o hábito da leitura.”
A mãe-escritora Emília diz que a relação com os filhos ajuda a pautar os trabalhos. “Além do
meu irmão, que é meu editor oficial, sempre chamo uma criança para me ajudar”, revela. “Em
A Jacarezinha que Mordia, foi meu filho Gael, que na época tinha somente 4 anos. Ele levou
super a sério a missão, dando ótimas opiniões. As crianças são muito verdadeiras! Fazem
críticas, mas também elogiam quando gostam de algo.”

O filho, inclusive, participou desta entrevista. “Só um segundo que a mamãe está no telefone.
Um segundinho, meu amor”, pedia Emília, em um diálogo paralelo com a criança. “Não, mãe”,
respondia o menino.

Mercado independente

Foi uma publicação independente, À Cidade, de Mailson Furtado Viana, que levou o Prêmio
Jabuti 2018. O ineditismo revela uma tendência de mercado possibilitada pela internet,
segundo o presidente da Associação Nacional de Livrarias (ANL), Bernardo Gurbanov. “O caso
da premiação é excepcional. Tem de ser reconhecida e aceita porque a produção independente hoje está quase superando, em número de livros publicados, a quantidade publicada por editoras”, explica.

O fenômeno, de acordo com o presidente da ANL, está diretamente relacionado a outro, o da
superdemanda pelas editoras. “São pilhas e pilhas de livros para ler. Isso ocorre
habitualmente”, afirma Gurbanov. “O mercado vêm apresentando dificuldades. Por outro
lado, as pessoas têm a facilidade de se autopublicar, em questão de minutos, por meio de
diversos canais. Os escritores otimizam seus recursos e o livro está feito.”

Em lugares onde o mercado independente ganha espaço, como a Banca Tatuí, no bairro de
Santa Cecília, na região central de São Paulo, livros relacionados à infância e à maternidade
vendem sem muito mistério. “São assuntos específicos, mas porque são específicos há quem
se identifique”, diz Cecília Arbolave, uma das sócias da banca e da editora Lote 42. “Tanto que
muitos livros sobre essas temáticas estão esgotados em nosso site. A gente vendeu tudo e está
esperando reposição.”

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