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Alex Silva/Estadão Modelo com calcinha absorvente preta segurando coletor menstrual roxo.
Calcinha absorvente e coletor menstrual são opções para quem procura diminuir o uso de absorventes descartáveis

Acreditem, o paninho da vovó está de volta

Empresas ganham mercado com uma versão hype da antiga toalhinha, além de coletores menstruais e calcinhas absorventes

Sua mãe e sua avó podem achar estranho se você contar que o paninho está de volta. Mas é fato que o mercado resgatou a ideia das toalhinhas, acompanhada do lançamento de coletores e calcinhas absorventes. Uma demanda surgida da preocupação com a sustentabilidade e a praticidade. E amplificada por uma forte divulgação digital. Com foco em um público mais jovem, essas empresas investem entre 5% e 10% do faturamento em redes sociais e influencers.

Criada em 2013 e ainda sem loja física, a Korui lançou neste ano uma linha de calcinhas com a apresentadora de culinária vegana Bela Gil. Também tem coletores e absorventes reutilizáveis. A estratégia de divulgação da marca inclui enviar produtos para youtubers e blogueiras avaliarem nas plataformas. O vídeo postado pela youtuber Fernanda Gimenez sobre o coletor menstrual, por exemplo, contabilizou 1,2 milhão de visualizações. A audiência obtida superou a média do canal, que tem 46,5 mil inscritos e público ligado a questões ambientais.

De acordo com Fernanda, a relação não foi financeira e sim uma parceria com uma marca que têm os mesmos valores ecológicos. Para as espectadoras do vídeo, a Korui deu um cupom de desconto, que reverteu em cerca de 200 compras, de acordo com a marca.

Vídeos e fotos são grandes aliados das empresas, na hora de explicar o funcionamento dos produtos para uma nova geração que nasceu na era dos absorventes de plástico e não está acostumada com modelos reutilizáveis. Os absorventes de pano são feitos com tecidos impermeáveis, que podem ser lavados mais de uma vez. Já o coletor é um copo de silicone, inserido no canal vaginal.

A durabilidade desses produtos pode chegar a dez anos e, de acordo com o site da Kouri, os itens já impediram o descarte de mais de 34 milhões de absorventes. “É uma desconstrução de tudo o que nós aprendemos durante a vida sobre a menstruação”, diz Luisa Cardoso, fundadora da marca. “Quando as pessoas começam a ler, e a internet ajuda com isso, elas questionam o uso do absorvente de plástico.”

A Pantys, outra marca nacional, tem no site institucional um vídeo explicativo sobre a calcinha absorvente, seu carro-chefe. A empresa, surgida em 2017, conta com cinco modelos diferentes, dos tradicionais às hot pants e aos shorts para o período noturno. As peças têm um absorvente acoplado antibacteriano e duram até 50 lavagens, o que garantiria ao uso por dois anos, segundo estimativa da marca. “É uma versão melhor do absorvente tradicional”, afirma uma das sócias, Emily Ewell.

“As mulheres querem conforto, durabilidade e funcionalidade.”
— Emily Ewell, sócia da Pantys

Ela e sua sócia, Maria Eduarda Camargo, lançaram recentemente biquínis e maiôs absorventes em parceria com a Ahlma, marca de roupas. A empresa não divulga o faturamento, mas informa ter crescimento de dois dígitos mês a mês e, desde o início da marca, já soma em torno de 50 mil clientes. Para a empresária, o público jovem é mais aberto a produtos novos, mas a Pantys também precisa conquistar outra geração, a das mães, pois elas normalmente compram absorvente para suas filhas.

“No início, as pessoas que compraram o produto foram aquelas que já entenderam ou conheciam os de fora e estavam esperando chegar ao Brasil”, explica Emily. “Agora temos mulheres que usaram e compram novamente.”

Alex Silva/EstadãoModelo com calcinha absorvente preta
A Pantys, marca de calcinhas absorventes, tem vários modelos de acordo com cada fluxo

Incomodada ficava a sua avó

O uso dos absorventes reutilizáveis, no entanto, requer que a mulher tenha conhecimento sobre seu fluxo. E nem sempre a solução será eficiente para todas. Daniela Lopes, de 35 anos, tentou trocar os absorventes descartáveis externos para a calcinha de fluxo intenso da Pantys, mas não teve uma boa experiência. Depois de três horas de uso, descobriu que o sangue tinha vazado. Apesar do “trauma”, ela foi reembolsada pela Pantys e ainda procura marcas em busca de mais praticidade e sustentabilidade durante seu período menstrual. “Amo tecnologias que facilitam nossa vida e contribuem com o meio ambiente”, conta.

A Korui também investe em novos produtos, caso da coleção em parceria com Bela Gil. De acordo com Luisa, a empresa cresceu 150% no último ano, mas não há ambição de chegar ao tamanho de uma empresa de absorventes descartáveis. “Eu acho que a gente pode vender menos e vender com qualidade”, afirma. “Todo o funcionamento é para empoderar as mulheres com produtos que gerem essa nova forma de lidar com a menstruação e para que esse período deixe de ser um problema.”

Para a ginecologista e professora da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP), Isabel Cristina Esposito Sorpreso, há um tabu acerca do tema, o que também impede as mulheres de se sentirem confortáveis ao tocarem os próprios corpos. Mesmo com a popularização dos absorventes internos no Brasil, muitas não se adaptam ao uso. “Os coletores ajudam essa nova geração a lidar com a vagina e o sangramento menstrual, o que do ponto de vista ginecológico é muito benéfico”, diz Isabel. No entanto, ela afirma que a mudança de mentalidade não está relacionada apenas à idade, já que pacientes no fim da vida fértil muitas vezes se interessam pelo uso dos coletores menstruais.

“As mulheres buscam qualidade de vida e a evolução dos produtos permite isso.”
— Dra. Isabel Cristina, ginecologista

Os absorventes sustentáveis ainda são um nicho e também são mais representativos no mercado americano do que a fatia de 0,5% daqui, estimada pela P&G. Para Juliana Inhasz, professora de Economia do Insper, essa diferença está associada a falta de informação da consumidora sobre as alternativas e, quanto mais a mulher se inserir no mercado de trabalho, mais o mercado de absorventes e produtos de higiene feminina tende a ganhar consumidoras. “Ele vai crescer com a recuperação econômica”, explica. “Precisamos recuperar a renda e ter mais produtividade dentro desse setor, para que os custos também sejam menores e o mercado consumidor não seja inibido.”

Hoje o imposto sobre os absorventes higiênicos está estável em 34,4%, de acordo com o Instituto Brasileiro de Planejamento e Tributação (IBPT). Apesar de lugares como Nova York e Índia terem retirado essas taxas, Juliana acredita que medidas assim não necessariamente acarretariam uma grande redução do preço final no Brasil. Já os produtos reutilizáveis podem se tornar mais acessíveis para as consumidoras. Mesmo sendo vantajosos financeiramente a longo prazo, os preços das calcinhas, coletores e absorventes de pano variam de R$ 75 a mais de R$ 100, enquanto os absorventes descartáveis podem ser encontrados por R$ 3 um pacote de oito unidades.

Necessidade básica

Em países subdesenvolvidos e áreas rurais onde meninas não têm acesso a absorventes descartáveis, muitas delas deixam de ir para a escola no período menstrual, o que, a longo prazo, prejudica a educação das mulheres. A ONG Days for Girls foi criada para distribuir kits com absorventes de pano, calcinhas e toalhas absorventes que podem ser lavados e reutilizados por vários ciclos. A ONG atua em países como Estados Unidos, México, Austrália, Cingapura, Tailândia, Guatemala, Guiana e África do Sul. De acordo com Alba Marisol Barrientos, diretora do escritório na Guatemala e responsável pelas ações na América Latina, os voluntários também atuam dando aulas sobre educação menstrual para meninas em idade escolar. “Nós recebemos educação sexual, mas não aprendemos sobre menstruação”, diz

A Korui também tem um projeto social em que, a cada dez coletores menstruais vendidos, um é doado para comunidades. Em 2017, em parceria com a empresa de desenvolvimento sustentável Raízes, a marca realizou a ação Dona do Meu Fluxo no Vale do Jequitinhonha, em Minas Gerais, e doou mais de 800 produtos a mulheres da região. De acordo com Luisa, além da doação, são realizados workshops de educação menstrual e empoderamento feminino para as mulheres não terem mais vergonha do período.

Quando chegaram ao Brasil, na década de 1930, os absorventes descartáveis trouxeram praticidade para as mulheres, substituindo toalhinhas ou paninhos, como eram conhecidas as opções disponíveis até então. Atualmente esse mercado fatura R$ 1,4 bilhão e cresceu 5,8% em 2017, de acordo com a Associação Brasileira da Indústria de Higiene Pessoal, Perfumaria e Cosméticos (ABIHPEC). A menstruação, no entanto, ainda é um assunto difícil para algumas mulheres.

Nos Estados Unidos, o modelo interno descartável, conhecido como O.B., representa 31% do mercado de absorventes, enquanto no Brasil está em 3%, segundo dados da P&G, dona da marca de absorventes descartáveis Always e Tampax. A aceitação de produtos com maior contato com o corpo durante a menstruação pode estar associada a quando esses modelos chegaram aos países: o Brasil teve seu primeiro O.B. na década de 1970, quase 40 anos depois da entrada no mercado americano.

Segundo pesquisa interna da P&G, a mulher brasileira tem uma relação com o corpo diferente de outros perfis de consumidoras ao redor do mundo. Ela valoriza a limpeza e chega a tomar até quatro banhos por dia quando está menstruada — isso aumenta a quantidade de absorventes descartáveis utilizados. Para Renata Mazetto, de 32 anos, alergia e a sensação de se sentir suja foram os principais motivos para desistir dos descartáveis e apostar no coletor menstrual da Korui. “Acho que com a calcinha e o absorvente de pano me dariam a mesma sensação”, afirma.

Livre de bactérias

Na época dos paninhos era comum que as mulheres tivessem a chamada Síndrome do Choque Tóxico (SCT), causada por uma bactéria presente na pele. Com o avanço da tecnologia dos absorventes descartáveis, tanto internos quanto externos, houve uma diminuição de ocorrência da síndrome.

A ginecologista Isabel Cristina diz que ao usar alternativas com tecidos laváveis é preciso tomar cuidado com a conservação dos produtos entre um ciclo menstrual e outro para evitar a proliferação de bactérias. Os absorventes de pano e as calcinhas podem ser lavados junto com as roupas na máquina de lavar — a Pantys oferece um saquinho de lavagem à parte —, já os coletores devem ser higienizados com água quente e sabão. Além disso, ela ressalta que só devem ser usados produtos autorizados pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), testados previamente. De acordo com Isabel, não é indicado passar mais do que seis horas com absorventes de pano, dependendo da intensidade do fluxo menstrual.

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