Nem os crimes nem os criminosos. Em um País com tantos casos de corrupção, são os nomes das operações que se destacam quando a pauta é Polícia Federal (PF). O caso mais recente ocorreu em novembro de 2018, mês em que estourou a Operação Capitu, que investiga pagamentos de propina e lavagem de dinheiro durante o governo de Dilma Rousseff.
Como os suspeitos praticaram atos de obstrução de Justiça, impedindo a apuração correta dos fatos, a PF decidiu batizar a nova operação de Capitu, personagem emblemática do escritor Machado de Assis, em referência a seu suposto caráter “dissimulado”. Tal característica seria a responsável por criar a eterna e conhecida discussão: a protagonista Dom Casmurro, livro escrito em 1889, teria ou não traído seu marido, Bentinho?
Capitu, no entanto, não é a única referência literária nas ações da PF. A primeira delas foi em 2005, com a Operação Macunaíma. O índio do escritor modernista Mário de Andrade deu nome à força-tarefa para desarticular um esquema criminoso de contrabando de mercadorias do Paraguai, com participação de servidores públicos, em referência ao subtítulo do livro, O Herói sem Nenhum Caráter.
Dois anos depois, Ilíada, de Homero, batizou uma investigação de crimes cibernéticos, principalmente de saques fraudulentos em contas bancárias virtuais. O nome faz referência ao cavalo de Troia, símbolo da história grega, além do nome de vírus da internet.
O famoso poema Vou-me Embora pra Pasárgada, de Manuel Bandeira, também entrou para a antologia da PF. O verso “Lá sou amigo do rei” — uma alusão a facilidades conquistadas quando se é próximo de quem está no poder — inspirou os delegados federais. Em 2008, foi deflagrada a Operação Pasárgada, para pôr fim a um esquema de liberação irregular de verbas do Fundo de Participação dos Municípios (FPM). Dezessete prefeitos foram presos.
Para desarticular organização criminosa que desviava recursos públicos de municípios do norte mineiro, foi criada em 2013 a Operação Sertão Veredas, em referência a Grande Sertão: Veredas, de Guimarães Rosa. O nome seria uma analogia às dificuldades do sertão e ao combate da corrupção.
Outro clássico do Nordeste, Vidas Secas, de Graciliano Ramos, também entrou para a lista de referências literárias nas operações da PF. Vidas Secas – Sinhá Vitória foi o nome de uma operação de 2016 que investigou superfaturamento das obras de engenharia em lotes da transposição do Rio São Francisco. Sinhá Vitória é a personagem do clássico, que, ao fazer as contas do pagamento que recebia do dono da fazenda na qual trabalhava, sempre chegava à conclusão de que era roubada.
A ideia de batizar as operações com nomes sugestivos já é prática comum na PF, apesar de não ser obrigatória. Tudo começou com a Operação Arca de Noé, que em 2002 investigou criminosos do jogo do bicho. Mais próximos do sarcasmo do que da literatura, alguns trocadilhos ficaram famosos ao nomear as ações da PF. São exemplos a Operação Banco Imobiliário, que prendeu uma quadrilha interestadual de falsificadores de dinheiro, e a Operação Gasparzinho, que desarticulou fraudes em licitação pública por meio de empresas de fachada.