WOLFGANG RATTAY/13/10/2019
Voando alto: no Mundial de Ginástica da Alemanha, foram nada menos do que cinco medalhas de ouro

‘Eu só compito comigo mesma’, diz Simone Biles

Fizemos três perguntas para a ginasta americana e - surpresa - ela contou que não costuma se comparar com outras atletas

O talento de Simone Biles pode ser contado em medalhas: ela já subiu mais vezes ao pódio em mundiais de ginástica artística do que celebrou aniversários de vida. Aos 22 anos, coleciona 25 medalhas – 19 de ouro. É a ginasta mais condecorada na história dos Estados Unidos em mundiais.

No Mundial de Ginástica de 2019, disputado na Alemanha, a norte-americana faturou cinco medalhas de ouro. Tornou-se a maior medalhista da história dos mundiais da modalidade, superando o recorde do ginasta bielorrusso Vitaly Scherbo, que se aposentou com 23 medalhas conquistadas em mundiais.

Parte do lado nada glamouroso da vida da ginasta veio a público quando as denúncias de abuso sexual contra o médico Larry Nassar ganharam os holofotes em 2016. Nassar coordenou a equipe médica da USA Gymnastics — entidade que regula a modalidade nos Estados Unidos — entre 1996 e 2014, e foi condenado a 175 anos de prisão após mais de 250 atletas revelarem ter sido vítimas do médico. Simone foi uma delas, e falou sobre o abuso nas redes sociais. “Essas pessoas foram muito corajosas ao dividirem suas histórias e pressionar por mudanças”, declarou ao Estado.

Simone diz que os recordes não são um objetivo esportivo para ela. “Eu compito contra mim mesma”, garante. O próximo pode ser conquistado em Tóquio-2020. Tratando-se de Simone Biles, quem é capaz de duvidar?

Simone, você está a cinco medalhas da recordista olímpica Larissa Latynina, da União Soviética, maior vencedora dos Jogos com nove medalhas de ouro. O céu é o limite para Simone Biles nos próximos anos?

Treino duro seis vezes por semana para me tornar a melhor ginasta que eu posso ser. Nunca me comparo com outros atletas ou coloco metas para bater seus recordes, não é o que me motiva. Eu compito contra mim mesma e se eu quebrar recordes no processo, vejo isso como uma benção.”

Como é ser uma mulher negra em um ambiente ainda dominado por meninas brancas, como o da ginástica nos Estados Unidos?

Eu amo a ginástica e acredito que é diversa em termos de cultura e raça. Como atleta, estou orgulhosa de quem eu sou e sinto que sou julgada pelo meu talento e por minhas habilidades. Eu espero que qualquer menina ou menino – independente de ser negro, asiático, latino, indígena ou branco – que ame o esporte seja capaz de descobrir essa paixão que eu descobri e façam o seu melhor para se destacar.

Abusos na ginástica, similares aos registrados nos Estados Unidos, foram denunciados no Brasil depois do julgamento de Larry Nassar. Como você se sente sabendo que o caso norte-americano encorajou atletas de outros países a denunciarem crimes semelhantes?

Estou orgulhosa do que todos os sobreviventes fizeram. Eles foram muito corajosos ao dividirem suas histórias e pressionar por mudanças. Tivemos muitas pessoas corajosas nos EUA e no resto do mundo, e eu tenho muito orgulho de andar junto a elas. Abuso de poder é um problema real e a dinâmica da ginástica pode tornar os atletas vulneráveis. Ainda estou procurando minha voz, mas espero que compartilhar minha história possa ajudar outros atletas a fazerem o mesmo. Juntos, nós podemos ajudar a gerar mais transparência e fazer o que é certo.